o poder da boa vontade

o lugar é bem simpático, dentro das possibilidades de simpatia que um laboratório de exames pode ter. não sei onde é o prédio, e o táxi passa. damos uma volta. depois não sei onde fica a entrada, e depois não sei onde fica o atendimento. me dou conta de como é bom estar em lugares onde nunca estive antes, mesmo que esse lugar não seja o mais acolhedor do mundo.

como tratar bem os seus clientes


a primeira sala é a de densitometria óssea. pergunto por que não vou fazer primeiro a coleta de sangue, já que estou de jejum desde das 21h do dia anterior e são quase 7h30. "este exame tem hora marcada, mas a coleta, não, você pode fazer até o fim do dia. "hum, que ótimo, acho que quem trabalha no laboratório meio que esquece que toda aquela multidão que se aglomera em cadeiras coloridas cujos pés são grudados no chão está ali em jejum. o exame me dá uma sensação de futuro, uma máquina linda que tem um braço enorme que passa sobre o meu corpo e vai e volta e vai e volta de novo. a moça diz pra eu não me mexer enquanto ela ajeita o meu corpo, o que é no mínimo divertido.
eu tenho ossos, digamos, pesados. sempre pesei mais do que minhas amigas, e descobri que isso é uma grande vantagem quando os cabelos começam a ficar brancos e os médicos se preocupam com doenças ósseas. algum parente seu tem osteoporose ou quebrou o quadril? [a palavra era outra, mas não lembro qual] era uma das perguntas que eu tive de responder em algum questionário ou para alguma atendente.
da sala do futuro volto para a sala de espera, e assim sucessivamente até completar a quantidade surreal de exames que uma pessoa que tem 48 anos, plano de saúde, mora em são paulo e tem um médico faz.
eu tinha combinado comigo que eu ia passar bem ao longo de toda a manhã. que eu não ia me sentir virada do avesso como sempre me sinto na manhã anual de exames no laboratório. que eu não ia me surpreender quando a médica que faz o ultrassom de mama dissesse que a mama tal tem xyz e pergunta "esse exame é só de rotina mesmo?". nem ia me irritar ao escolher a resposta à pergunta "é virgem?". tampouco me aborrecer com o pedido de "encher a bexiga para o ultrassom de abdômen" e, para isso, tomar 6 ou mais copinhos de água. em jejum.
na hora de ir embora achei ótimo tomar o café da máquina da saleta onde outros vários examinados em jejum se deliciavam com uma bebida quente num copinho de plástico. comi duas bolachinhas com cacau maravilhosas. como dizia a minha avó, o melhor cozinheiro é a fome.
andei até o ponto de ônibus. começava a chover, eu queria comer os biscoitinhos e queria mandar mensagens no celular ao mesmo tempo. quando cheguei ao ponto do ônibus, que era do outro lado da rua, pensei que era bom eu ficar sossegada porque o ônibus ali costuma demorar até 30 minutos. passa um e, surpresa!, era o terminal pinheiros.
vim trabalhando dentro do ônibus e no caminho para casa, uns telefonemas para adiantar as tarefas do dia que seria longo. cheguei em casa meio zonza. semanas de trabalho intenso desde o natal e sexta-feira. ainda bem. mas eu estava estranhamente calma, mandando os começos de pensamentos inimigos embora. o que era isso? uma pessoa cansada, que depois de passar por inúmeras salas no laboratório, volta pra casa sentindo-se bem. isso era a minha boa vontade. eu acordei com boa vontade, saí de casa com ela e a mantive ao meu lado o tempo todo naquele ambiente que eu não costumo apreciar. pois hoje eu apreciei. estrelinhas douradas para mim. viver com boa vontade é muito, mas muito mais confortável e acolhedor. ainda bem que há descobertas que nos pegam de surpresa. e citando a minha querida oma, "antes tarde do que nunca".


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