"eu não vou chegar"

era sábado. sabia que não devia contar com a calmaria de um fim de semana, porque existem coisas que nunca são calmas em são paulo. uma delas é o trânsito sobre a ponte que me permite cruzar o rio pinheiros para seguir em direção à escola das crianças.
e assim foi. em vez dos 12 minutos que eu poderia levar, para chegar a uma reunião com uma folga de 15 minutos - o mundo ideal para pessoas que não passam bem com atrasos -, demorei 45 minutos. "eu não vou chegar" era o mantra que tomou conta dos meus pensamentos. coloquei boa música, pensava em coisas boas, mas "eu não vou chegar". eu estava furiosa, e nessas horas s-e-m-p-r-e penso em sair correndo da bela e cinza são paulo.
eu cheguei. e para minha surpresa, a reunião, que sempre começa pontualmente, naquela manhã de sábado estava atrasada 15 minutos. alívio. e a raiva foi-se.
mas eu fiquei pensando no não chegar. um dia antes, eu fiquei sentada mais de 2 horas e meia no carro para percorrer os 20km que separam a escola das crianças do escritório. algo aconteceu - e sempre algo acontece aqui em são paulo, mas muitas vezes não chegamos a saber que algo é esse - e a estrada parou. passada 1 hora e 15 minutos, mandei uma mensagem pra avisar que não chegaria à reunião. e assim foi. quando abri a porta do escritório, a reunião tinha acabado de terminar.
depois, passei o fim de semana em casa, sozinha. fazendo tudo devagar. lendo jornal, vendo filme, lavando louça, tudo devagar. e o ar, estranhamente, me faltava.
tem um poeminha do quintana que eu encontrei hoje numa gaveta. eu o conheci pendurado na geladeira da minha amiga que mora no sertão baiano. diz assim:

a vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
quando se vê, já são seis horas!
quando se vê, já é sexta-feira...
quando se vê, já terminou o ano...
quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
quando se vê, já passaram-se 50 anos!

agora é tarde demais para ser reprovado.
se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
desta forma, eu digo: não deixe de fazer algo que goste, devido à falta de tempo, pois a única falta que terá será desse tempo que infelizmente não voltará mais.
 

fim! 

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