o que fazer para não 'sofrer dos nervos' no claustro

quando eu era criança, havia muitos adultos que sofriam dos nervos. assim é que se referiam a um diagnóstico genérico quando falavam de alguém que tinha essa tal doença, 'dos nervos'.
fiquei pensando nessa forma generalizada de se referir a pessoas que, imagino, ficavam mais nervosas do que os outros. e hoje, passada a primeira semana em que filhos começaram a ficar em casa em pleno mês de março por conta de uma pandemia, imagino que muitos de nós seriam, na década de 70, diagnosticados com a doença dos nervos.
gostamos de reclamar, nos acostumamos a reclamar e seguimos reclamando. agora, quando nos foi imposto o claustro, reclamamos mais ainda. mas eu queria poder deixar de reclamar e de integrar o grupo das pessoas que sofrem dos nervos e passar para o grupo dos que aproveitam o momento. porque isso é o que temos pra hoje. como?

1 - dormindo mais
mesmo que sigamos trabalhando, economizamos o tempo dos deslocamentos de ir e vir. luxo. dormir um pouco mais cedo, acordar um pouco mais tarde.

2- cozinhando 
minha vizinha do 13º tem uma filha de 7 anos, a alice, que vem me visitar de vez em quando com a outra vizinha amiga dela, a júlia, que tem 8. nesses dias sem aula, elas me visitam em dias alternados. e a deni, mãe da alice, me mandou esta semana um prato com bolo e um bilhete adorável, dizendo que eu era uma vizinha que fazia a vida no claustro ser melhor.
ao comer o incrível bolo de cenoura com calda de chocolate, minha filha perguntou se eu tinha uma receita. sim, eu tinha, mas nunca tinha feito - quem fazia bolos de cenoura aqui em casa era a nalva, e desde que ela foi embora, quatro anos atrás, nunca mais comemos um. lívia pegou o caderno de receitas, encontrou a receita e fez o bolo de cenoura mais fabuloso do mundo.

bolo de cenoura da tia olinda

bater no liquidificador:
3 cenouras grandes
3 ovos
1/2 xic. óleo

coloque tudo numa tigela e acrescente:
2 xic. farinha
2 xic. açúcar
2 c. sopa fermento

leve para assar em forno quente. desenforme o bolo morno ou frio. faça pequenos furos no bolo com um garfo antes de jogar a calda sobre ele. 

calda:
4 c. sopa manteiga
4 c. sopa água fria
6 c. sopa açúcar
6 c. sopa chocolate em pó (ou 3 c. sopa cacau)

levar ao fogo em uma panela pequena, mexendo sempre. deixar ferver por 2 minutos e jogar a calda ainda quente sobre o bolo.



eu também tenho feito algumas receitas, e ontem fiz torta de maçã e caponata. a torta de maçã é uma receita antiga, e eu me lembrei da minha vida quase 20 anos atrás, quando meu filho nasceu e comíamos muito dessa torta de maçã, aveia e mel.

torta de maçã, aveia e mel

1 1/2 xic. aveia
1 xic. farinha
1 xic. açúcar branco ou mascavo
1 c. chá fermento
1 c. sopa essência de baunilha
1/2 xíc.água gelada (vá colocando aos poucos, talvez não seja necessária toda água)

misturar os ingredientes da massa com as mãos e colocar a massa em uma forma de fundo removível ou em um prato refratário, caso você não queira desenformar a torta.

recheio:
6 maças sem casca raladas ou cortadas em fatias médias ou finas
1 ou 2 c. sopa mel
canela em pó
um punhado de uva passa

misturar tudo e colocar sobre a massa. levar ao forno e assar até sentir o cheiro de torta assada. se sobrar massa, faça bolinhas e asse os biscoitinhos no forno até dourar, sem deixar escurecer demais. (eu não usei uva passa)



a caponata eu descobri como fazer num livro de receitas muito bom que minha amiga bia goll me emprestou, a arte da comida simples, da alice waters. está esgotado, mas há exemplares usados à venda na estante virtual. ela explica muito bem como fazer todas as receitas, e há de tudo. é um deleite para quem gosta de cozinhar e para quem quer aprender também!

caponata

2 berinjelas médias cortadas em cubos
tempere com sal e coloque em um escorredor para soltarem a água por meia hora, mais ou menos.
aqueça:
1 c. sopa azeite
em uma panela pesada e cubra o fundo com a berinjela. braseie até dourar, retire e coloque outra leva de berinjela, até que toda berinjela passe por esse processo. se precisar, coloque mais azeite. quando terminar, coloque um pouco mais de azeite e doure:
2/3 xic aipo cortado fininho
retire da panela e reserva.
coloque na mesma panela:
1 c. sopa azeite
1 cebola pequena cortada em cubos
cozinhe até a cebola ficar translúcida, por cerca de 7 minutos.
junte:
1 1/2 xic molho de tomate (pronto ou que você faz com 2 dentes de alho, azeite de oliva, sal e 5/6 tomates em cubos, cozinhando por cerca de 10 minutos)
cozinhe por mais uns 7 minutos.
acrescente a berinjela e o aipo cozidos e em seguida coloque:
1/3 xic azeitonas verdes sem caroço
2 a 3 c. sopa alcaparras
2 anchovas picadinhas
1/4 xic vinagre vinho tinto
1 1/2 c. chá açúcar
cozinhe por mais 10 minutos. prove e aumente o sal, o vinagre ou o açúcar a gosto. a caponata fica ainda mais gostosa no dia seguinte. guarde na geladeira, em vidro fechado. (eu não encontrei aipo, e não tinha em casa anchovas. fiz sem esses ingredientes e ficou maravilhosa. coloquei também pimenta em flocos para deixar um pouco ardido)

3 - fazendo refeições tranquilas, mais longas e divertidas
para quem trabalha todos os dias fora de casa, passar os dias em casa e fazendo as três refeições em família pode ser assustador. mas pode ser divertido também. aliás, é divertido, se a gente permitir que seja. comer devagar é um luxo que às vezes se torna raro, porque temos de sair correndo de manhã cedo, porque o horário do almoço está espremido entre duas reuniões, porque na hora do jantar os filhos organizaram uma guerra e todos estão exaustos e sem paciência. mas nesses dias com todos em casa, pode ser diferente. 

4 - colocar em prática qualquer atividade física
uns anos atrás eu comprei um dvd que ensinava algumas sequências de lian gong, uma ginástica chinesa leve e profundamente benéfica para o corpo, que aumenta a calma e a imunidade. depois passei a fazer uma sequência de yoga que aprendi durante um retiro de silêncio. mas sempre abandono porque não dá tempo, os filhos estão na sala, onde tenho espaço para praticar?, alguém me chamou. agora, no claustro, dá pra tirar do fundo da estante de livros ou da pilha de cadernos esses materiais esquecidos e praticar.

5 - arrumar o que não é arrumado há tempos
tem os que gostam de fazer arrumações (presente!) e os que não suportam. mas todo mundo gosta de ver o resultado. com tempo livre, ataque o lugar mais zona da sua casa primeiro, mas tome cuidado para não escolher o maior de todos (tipo um armário com 12 portas mais o maleiro). pegue leve. pode ser o armário das toalhas, que é quase inofensivo, ou a caixa de ferramentas, ou uma gaveta de talheres. faça um chá, um café ou pegue uma cerveja ou uma taça de vinho e comece. se você tiver filhos, pode sugerir que eles façam alguma parte, tipo dobrar as toalhas, ou passar um pano nas prateleiras do armário. lembrando da regra número 1 de toda arrumação: separe para doar o que não é mais usado ou o que você não gosta mais. fotos (em papel ou digitais) e arquivos do computador também podem entrar nessa tarefa.
terminada a primeira arrumação, escolha o segundo alvo. as chances de você arrumar a sua casa e sentir um alívio se livrando da bagunça, da sujeira e das tralhas é gigantesca.

6 - pegar a pilha de livros para ler, tirar o pó e começar
essa dica é pra mim, mas achei que podia compartilhar. ah ah ah. andava lendo muito até o começo do claustro, mas diminuí o ritmo, estranhamente. ainda não tirei do armário a pilha enorme de livros - que me fez me proibir de comprar livros enquanto eu não der conta dos que estão ali empilhados.

7 - usar as mãos 
para algo que exija uma parada: tricô, crochê, ponto cruz, pregar um botão, cortar umas calças que vão virar um short, pintar, desenhar. essa é uma atividade sempre rica para pessoas que, como eu, estão sempre ocupadas e não têm trabalhos manuais em curso. eu tenho a impressão de que todos nós tempos algo que gostamos de fazer com as mãos e que nunca temos tempo. agora temos. 

8 - day spa
essa dica eu recebi de uma adolescente. pode ser divertido para qualquer pessoa, de qualquer idade. banho de banheira, banho com espuma (na banheira ou com uma esponja no chuveiro), cortar o cabelo, pintar o cabelo, fazer máscaras (para quem não acha xexelento ficar com pepinos ou cremes espessos no rosto), pintar as unhas, fazer uma sessão de depilação, escalda pés, massagens (se na sua casa tiver mais de uma pessoa), sessão de maquiagem. o que mais? eu não sou muito boa nisso, mas acho que é isso que a adolescente que me inspirou diria - ou faria.

9 - parar
a prática STOP é sugerida por um professor de meditação do Reino Unido, que faz muito sentido nesses tempos de claustro. até pra gente praticar todos os dias e, quando o claustro chegar ao fim, podemos estar craques!

STOP
S – stopping
Invista um minuto na sua saúde mental.
Empregue a técnica de emergência re-boot:  respire com atenção plena, com uma expiração mais longa, sorria e sinta seus pés no chão. Três respirações. Isso vai ‘reiniciar’ seu sistema parassimpático

T – tomando conta (taking care)
As pessoas precisam de você, e com saúde. Faça algo que você sabe que funciona pra você: dê uma caminhada, uma corrida, converse com um amigo (mas evite um ataque aos chocolates ou doces).  E seja gentil com alguém: isso vai fazê-lo se sentir feliz. Perdoe-se, deixe de lado as auto-críticas, tenha compaixão por esse ser humano que é você

O – organize-se
Faça uma lista do que é mais urgente, o que é menos urgente e o que não tem urgência nenhuma.

P – pausa
Procure perceber como você está. Uma pausa de 1 minuto a cada hora: é um tempo para você “ser”, e não “fazer”.

(Simon Michales, do Mindful Work)


10 - rezar
se você tem fé, reze. e se não tem, reze assim mesmo. um texto útil para o momento é este a seguir. facilita imprimi-lo para ler toda vez que você sentir necessidade. pode ser ao acordar e ao dormir. ou em qualquer outro horário. não demora muito, e traz muitos benefícios.

Paz a todos os seres
Que todos os seres sejam saudáveis e felizes
E livres do medo

Paz a todos os seres
Próximos ou distantes
Conhecidos ou desconhecidos
Visíveis ou invisíveis
Reais ou imaginários
Nascidos ou ainda por nascer

Que todos os seres sejam saudáveis e felizes
E livres do medo

Paz a todos os seres
Na imaginação e além
No mundo das ideias
No mundo de memórias
E no mundo dos sonhos

Que todos os seres sejam saudáveis
E felizes e livres do medo

Paz em todos os elementos
Da terra e do ar, do fogo e da água
Preenchidos no espaço

Paz
Paz em todos os universos
Das menores células no corpo
Às maiores galáxias no espaço
Paz e luz surgindo

Paz a todos os seres
Em cada ser aqui presente
Os seres que são do passado
E os que ainda serão no futuro

Que todos os seres sejam saudáveis e felizes
E livres do medo

Paz e amor e conforto e tranquilidade
Para todos em dificuldade
Que todos os seres sejam saudáveis e felizes
E livres do medo


John Garrie Roshi

rua dos pinheiros, sexta, dia 20/3, no fim da tarde


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