quatro jeitos muito fáceis de sentir alegria em meio ao caos
costumamos querer o que não temos. as frases gastas pra expressar isso são inúmeras. sim, tem a grama do vizinho, só pra dar um exemplo. e, como crianças mimadas, gostamos de escolher o que vamos fazer.
estamos todos em casa. e isso foi uma ordem. ficar em casa é bom, repousante, mas se for uma obrigação, não achamos graça. feito crianças mimadas, reclamamos, bufamos, temos a nossa ansiedade elevada, numa escala de 0 a 100, a 145, em média. eu ainda não me joguei no chão para bater a cabeça, imitando crianças em ataque histérico para conseguir o que querem com os pais, o que pode ser desde comer uma bala antes do almoço até dormir depois da hora combinada, passando por tentativas de não tomar o banho diário ou ir pra cama pulando a etapa de escovar os dentes. o nome disso é chilique. quem dá chilique ou tem menos de 8 anos ou é maluco.
mas agora, em época de quarentena, podemos todos dar chiliques. estamos fechados em casa. e ninguém vai ver. ora ora, não tem problema. mas se não prestarmos atenção, corremos o risco de passar os dias inteiros dando chilique. e, claro, quem dá chilique não aproveita. a própria vida.
as crianças, aliás, são mestres nisso. aproveitam. quando vêem uma flor, param de andar, se aproximam da flor, cheiram a flor e ficam apreciando suas pétalas e cores, enquanto nós, adultos, começamos a sentir uns arrepios no corpo e dizemos vamos, filho, a mamãe/o papai vai se atrasar, temos de ir para [complete com o lugar que quiser]. para as crianças, só tem o que está acontecendo agora. por isso, elas ficam loucas quando entramos na sala gritando que é hora de tomar banho, podem arrumar toda essa bagunça e eu vou contar até três agora. eles são seres sutis e delicados. não aguentam interrupções abruptas de adultos apressados cansados impacientes - meu deus, isso não vai me deixar culpada, não não e não.
abaixo, quatro práticas viáveis para você fazer quando perceber que seus níveis de civilidade estão indo pro espaço e que você vai dar um chilique porque está dentro de casa, e esse vírus maledetto, e que chatice que não posso sair pra passear, e como a minha casa está bagunçada e suja, e o que eu faço com [preencha: cão, vizinha, namorado, obra na rua, essa notícia, meu filho, minha mãe, meu chefe], que está me irritando.
1.
ciclo de samatha
samatha quer dizer meditação da tranquilidade (em páli e em sânscrito). mas ciclo de samatha não é uma meditação. não é uma prática que inclui sentar numa almofada, cruzar as pernas e blá-blá-blá. eu aprendi o ciclo de samatha com um dos meus professores, o Tarchin Hearn. o ensinamento também está no livro homônimo, que foi lançado em português pela editora AME. o livro é pequeno, fácil de ler e, bônus, é lindo.
a ideia é você poder perceber, no dia a dia, ou melhor, em qualquer momento do seu dia ou noite (insônia, alguém?), que você pode sorrir, respirar, estar presente, apreciar e oferecer.
apreciar o quê? oferecer o quê? o que estiver acontecendo. é tão simples que nem parece um ensinamento. mas tente. é desconcertante. você se solta das suas tensões que prendem o seu corpo inteiro, incluindo a sua respiração, em instantes. é um alívio imediato.
nas palavas do Tarchin, "O ciclo de samatha é um lembrete de como repousar confortavelmente na correnteza borbulhante de constantes mudanças da nossa vida. (...) é um lembrete maravilhoso. Simplesmente fazer uma pausa e rever cinco palavras - sorrindo, respirando, presente, apreciando, oferecendo - é geralmente suficiente para nos trazer de volta a um modo de ser muito mais rico."
o Tarchin é um cara poético. tem dedicado a sua vida a ensinar. e nos ensina só o que ele percebeu, não o que ele leu em livros. é muito bonito.
2.
Haa-Ka-Tau
diz Hirini: "Vamos fazer as crianças respirarem adequadamente. Respirar por todas as partes do corpo para aliviar a tensão e a dor. Respirando para se acalmar de um ataque de pânico. Respirando para acalmar o coração. Respirando por meio dos ancestrais. A árvore. A montanha. O rio. As estrelas. E então as crianças saberão que elas não estão sozinhas. Elas podem se sentir em casa novamente. Podem se sentir conectadas".
3.
respirando com a natureza
o nome que se dá hoje é banho de floresta. criado no japão, o banho significa você se embrenhar numa área verde e passar um tempo lá, em meio à natureza - pode ser um parque, uma floresta, qualquer lugar verde. mas respirando na natureza é uma prática que meu professor Jangchub Reid ensina, ora em retiros, ora nas aulas que ele dá, presenciais ou online.
é simples. você se senta em frente a uma planta - e isso quer dizer que você ser dentro da sua casa, numa pracinha na esquina e, se você morar em cidades em que os parques estão abertos, em parques - e respira olhando pra ela ou a imaginando, caso prefira fechar os olhos.
ao inspirar, você se dá conta do oxigênio que a planta gentilmente disponibiliza pra você, enchendo seu corpo de vitalidade. e, ao expirar, você percebe que a planta vai receber o dióxido de carbono que você está eliminando.
se fizer sentido, você pode encher o seu corpo de gratidão por essa troca que acontece entre você e a planta. permaneça sentado fazendo essa respiração com a planta durante o tempo que você quiser - pode ser 5 minutos ou uma hora.
4.
estamos todos em casa. e isso foi uma ordem. ficar em casa é bom, repousante, mas se for uma obrigação, não achamos graça. feito crianças mimadas, reclamamos, bufamos, temos a nossa ansiedade elevada, numa escala de 0 a 100, a 145, em média. eu ainda não me joguei no chão para bater a cabeça, imitando crianças em ataque histérico para conseguir o que querem com os pais, o que pode ser desde comer uma bala antes do almoço até dormir depois da hora combinada, passando por tentativas de não tomar o banho diário ou ir pra cama pulando a etapa de escovar os dentes. o nome disso é chilique. quem dá chilique ou tem menos de 8 anos ou é maluco.
mas agora, em época de quarentena, podemos todos dar chiliques. estamos fechados em casa. e ninguém vai ver. ora ora, não tem problema. mas se não prestarmos atenção, corremos o risco de passar os dias inteiros dando chilique. e, claro, quem dá chilique não aproveita. a própria vida.
as crianças, aliás, são mestres nisso. aproveitam. quando vêem uma flor, param de andar, se aproximam da flor, cheiram a flor e ficam apreciando suas pétalas e cores, enquanto nós, adultos, começamos a sentir uns arrepios no corpo e dizemos vamos, filho, a mamãe/o papai vai se atrasar, temos de ir para [complete com o lugar que quiser]. para as crianças, só tem o que está acontecendo agora. por isso, elas ficam loucas quando entramos na sala gritando que é hora de tomar banho, podem arrumar toda essa bagunça e eu vou contar até três agora. eles são seres sutis e delicados. não aguentam interrupções abruptas de adultos apressados cansados impacientes - meu deus, isso não vai me deixar culpada, não não e não.
abaixo, quatro práticas viáveis para você fazer quando perceber que seus níveis de civilidade estão indo pro espaço e que você vai dar um chilique porque está dentro de casa, e esse vírus maledetto, e que chatice que não posso sair pra passear, e como a minha casa está bagunçada e suja, e o que eu faço com [preencha: cão, vizinha, namorado, obra na rua, essa notícia, meu filho, minha mãe, meu chefe], que está me irritando.
1.
ciclo de samatha
samatha quer dizer meditação da tranquilidade (em páli e em sânscrito). mas ciclo de samatha não é uma meditação. não é uma prática que inclui sentar numa almofada, cruzar as pernas e blá-blá-blá. eu aprendi o ciclo de samatha com um dos meus professores, o Tarchin Hearn. o ensinamento também está no livro homônimo, que foi lançado em português pela editora AME. o livro é pequeno, fácil de ler e, bônus, é lindo.
a ideia é você poder perceber, no dia a dia, ou melhor, em qualquer momento do seu dia ou noite (insônia, alguém?), que você pode sorrir, respirar, estar presente, apreciar e oferecer.
apreciar o quê? oferecer o quê? o que estiver acontecendo. é tão simples que nem parece um ensinamento. mas tente. é desconcertante. você se solta das suas tensões que prendem o seu corpo inteiro, incluindo a sua respiração, em instantes. é um alívio imediato.
nas palavas do Tarchin, "O ciclo de samatha é um lembrete de como repousar confortavelmente na correnteza borbulhante de constantes mudanças da nossa vida. (...) é um lembrete maravilhoso. Simplesmente fazer uma pausa e rever cinco palavras - sorrindo, respirando, presente, apreciando, oferecendo - é geralmente suficiente para nos trazer de volta a um modo de ser muito mais rico."
o Tarchin é um cara poético. tem dedicado a sua vida a ensinar. e nos ensina só o que ele percebeu, não o que ele leu em livros. é muito bonito.
2.
Haa-Ka-Tau
respiração haa-ka-tau quer dizer
respiração da paz. quem ensina é o Hirini Reedy, um ativista maori da Nova
Zelândia. a respiração é muito simples. e pode ser feita com pessoas de
qualquer idade. a respiração inclui um ciclo de quatro respirações e, em cada
uma, você inspira contando até 4, segura o ar dentro da barriga contando até 4,
expira contando até 4 e fica com a barriga sem ar contando até 4.
diz Hirini: "Vamos fazer as crianças respirarem adequadamente. Respirar por todas as partes do corpo para aliviar a tensão e a dor. Respirando para se acalmar de um ataque de pânico. Respirando para acalmar o coração. Respirando por meio dos ancestrais. A árvore. A montanha. O rio. As estrelas. E então as crianças saberão que elas não estão sozinhas. Elas podem se sentir em casa novamente. Podem se sentir conectadas".
respirando com a natureza
o nome que se dá hoje é banho de floresta. criado no japão, o banho significa você se embrenhar numa área verde e passar um tempo lá, em meio à natureza - pode ser um parque, uma floresta, qualquer lugar verde. mas respirando na natureza é uma prática que meu professor Jangchub Reid ensina, ora em retiros, ora nas aulas que ele dá, presenciais ou online.
é simples. você se senta em frente a uma planta - e isso quer dizer que você ser dentro da sua casa, numa pracinha na esquina e, se você morar em cidades em que os parques estão abertos, em parques - e respira olhando pra ela ou a imaginando, caso prefira fechar os olhos.
ao inspirar, você se dá conta do oxigênio que a planta gentilmente disponibiliza pra você, enchendo seu corpo de vitalidade. e, ao expirar, você percebe que a planta vai receber o dióxido de carbono que você está eliminando.
se fizer sentido, você pode encher o seu corpo de gratidão por essa troca que acontece entre você e a planta. permaneça sentado fazendo essa respiração com a planta durante o tempo que você quiser - pode ser 5 minutos ou uma hora.
4.
jeito fácil e jeito mais fácil ainda de praticar mindfulness
sente-se por 2 minutos e traga gentilmente a sua atenção para a respiração. esse exercício é chamado de "modo fácil" de praticar mindfulness por Chade-Meng Tan, um engenheiro chinês que trabalhava no Google, desenvolveu um curso de mindfulness e inteligência emocional e lançou um livro que virou um sucesso - em inglês "Search Inside Yourself" (Busque Dentro de Você, o caminho inesperado para você atingir sucesso, felicidade e a paz no mundo).
e se você achar que não é tão fácil, Meng sugere o "modo mais fácil ainda" de praticar mindufulness. que consiste em sentar-se por 2 minutos sem fazer nada.
ah, e se você escolher não fazer nada, mas quiser trocar para prestar atenção à sua respiração ou vice-versa, pode trocar o modo de prática a qualquer momento e quantas vezes quiser.
como tudo na vida, você tem de experimentar para ver como se sente, se funciona, se é bom. eu tenho praticado várias horas por dia nesta época de quarentena, o que beira a anomalia em nosso mundo ocidental. e isso não quer dizer que eu me sinta ótima. não me sinto. tem as horas boas, as horas neutras e as horas péssimas. mas se eu não fizer nada para melhorar, será pior. porque se a gente não fizer nada por nós mesmos, quem fará?
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