focando no bom

eu comecei a fazer uma lista das coisas boas desta quarentena-que-não-termina-nunca. é uma coisa bem pessoal, pra manter a minha sanidade e me lembrar de que há coisas BOAS acontecendo todos os dias, mesmo quando estamos sem trabalho, sem um puto tostão, e sem sair de casa.

lá vai. 

  • sem mesada para os filhos. não foi uma escolha filosófica, 'ah já que estamos na quarentena pra que ganhar mesada?'. foi uma falta de escolha. mãe sem trabalho não paga mesada. e não tem culpa
  • mesmo assim, um dos meus filhos começou a investir na bolsa. uma lição para esta mãe, que nunca guardou dinheiro na vida
  • o uso da máscara me ensinou que quanto mais lentamente eu respiro, menos aflitivo é
  • minha casa ficou quente. não sei explicar muito bem
  • os três moradores do apartamento têm cozinhado


a melhor torta de limão do mundo

  • eu voltei a fazer pão
  • aprendi a fazer fermento, cujos ingredientes são água e farinha. sim, é verdade
  • a qualidade da comida que comemos aumentou muito. mais tempo para fazer, mais tempo para sentar e comer, mais tempo para apreciar
  • ficamos sem comprar nada além de comida por muito tempo, e não comprar coisas é sempre um alívio, um descanso, um sossego
  • a faxina virou algo que tem de ser feito e ponto. temos feito quase com alegria. quase
  • minha filha aprendeu a limpar vidros (e descobriu que eles têm de ser limpos de vez em quando)
  • os três moradores da casa têm lido, às vezes todos juntos na sala. são muitos e muitos livros desde o início do claustro
  • o convívio doméstico tornou-se muito pacífico. ora estamos todos juntos, ora cada um está numa peça diferente. e convidamos um ao outro para tomar um café, um chá, comer bolo e conversar
  • fazemos mais acordos: quem cozinha? quem compra o que falta? quem faz uma sobremesa?
  • a casa está muito organizada (descontando o tema-tabu 'pia da cozinha')
  • doei minha máquina para um dos meus filhos
  • doei uma máquina que não era usada uns dias antes de começar a reclusão no Brasil. e tive de muitas e muitas vezes depois disso pensar que eu tinha feito uma ótima ação, dando para alguém que não tinha como comprar um belo computador. estava sem uso, mas teria sido muito usado neste ano de aulas em casa
  • comprei uma nova máquina pra mim, mais lenta do que a que eu tinha, parcelada em trocentas vezes. não é possível duas pessoas usarem a mesma máquina o dia inteiro
  • eu não tenho mais mesa para trabalhar. um dia sento no chão da sala, outro dia uso a mesona da cozinha, noutro trabalho na poltrona do meu quarto. e treino NÃO reclamar. todo santo dia
  • fiz inúmeras entrevistas de emprego que não deram em nada. ou melhor, me fizeram duvidar das minhas habilidades. mas já passou 
  • temos usado as mesmas roupas, e essas roupas vão ficando desbotadas largas sem elástico com furinhos e furos e furões. que alegria. não servirão nem pra pano de chão
  • comecei a dar aulas online
  • comecei a olhar para o céu de manhã quando ainda está escuro, quando amanhece, quando o sol de põe e à noite
  • fiz um retiro mini de quatro dias que era pra ser de silêncio mas que foi médio de silêncio, porque estava na casa de uma amiga. mas entre fazer um retiro de meio silêncio e não fazer nada, preferi o primeiro


vista da janela do meu quarto no retiro


  • minha vizinha do 13 e eu passamos a trocar ingredientes e comidas. ovo, leite, manteiga, chocolate em pó, pão, granolas, bolos de todos os tipos, pavê, brigadeiro, focaccia. tudo sobe e desce de elevador, porque minha vizinha se autodenomina "a louca da covid"
  • eu passei a treinar o respeito pelo medo do outro. é uma coisa difícil de fazer, olhar sob a ótica de uma outra pessoa, e não sob a nossa. muitas amigas minhas têm ou tinham muito, mas muito medo do coronga. e eu, não
  • passei a ter um ritmo saudável de dormir muito cedo e de acordar mais cedo ainda. e concluí que meu ritmo quem dita sou eu, e não o mundo
  • senti, desde o começo, um certo alívio de pensar que estamos todos no mesmo barco - tá bom, tá bom, tem os que não estão neste barco porque têm tanto dinheiro que as preocupações mundanas acerca do coronga nem chegaram perto deles, mas eles não são a maioria
  • minha amiga J e eu passamos a conversar por telefone e/ou vídeochamada, só para colocar o assunto em dia. uma maravilha, às vezes os temas são otimistas, às vezes são tristes, às vezes são animados. como antigamente, quando telefonávamos para conversar com alguém
  • cursos passaram a ser oferecidos de graça, e eu fiz um excelente, de comunicação consciente, oferecido por um centro budista de Massachusetts
  • tricotamos muitos pares de pantufa e terminamos com o saco de lãs que tínhamos em casa. além de termos dado de presente alguns pares e de agora termos muitas pantufas para usarmos em casa
  • meu professor dá muitas aulas online


aprendendo a fazer um rosário online
 

  • meu professor dá pequenos retiros online
  • minha filha começou a criar e vender brincos (@brincosdalili)
  • minha filha passou a fazer aulas de ginástica em casa
  • passei a focar nas coisas boas, e a dar menos importância ao que acontece de uma forma diferente do que eu queria/imaginava. e isso muda a vida da gente
  • acho divertido não comprar nada, e sei que isso acontece graças ao treinamento que fiz em 2019, quando passei 12 meses sem comprar nenhuma roupa nem sapato nem acessório
  • me dei conta de que o fato de ter passado 2019 sem comprar roupas nem sapatos nem acessórios me transformou profundamente, coisa que eu não tinha percebido quando acabaram os 12 meses e eu saí feliz para comprar três regatas. a diferença entre querer e precisar ficou BEM clara agora
  • aprendi a trocar o interruptor da luminária que tinha estragado. custou R$ 6,50 o interruptor, e o rapaz da loja me disse que era fácil trocar, "só ver no YouTube". e eu vi
  • ofereço chá e café e chimarrão pros meus filhos quando eles estão em aula. issoé muito chique, poder tomar algo enquanto estão em aula 
  • andamos de pantufa o dia inteiro - coisa que na escola não rola e que também é um luxo
  • eu estou cada dia mais feliz
  • fim. quer completar a lista? deixa um comentário aqui no blog (se for muito rolê, pode deixar o comentário onde o texto estiver, FB ou Insta)



Comentários

  1. eu acompanhei meu pai ao hospital por duas vezes... e um dos resultado disso foi que estamos muito mais unidos, mudamos nossa alimentação, e hoje estamos mais saudáveis do que no começo da quarentena

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    1. uau! é muito bom por ver que tudo tem mais de um lado para ser enxergado. obrigada por compartilhar!

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