a hóspede em porto alegre

acordei e fui para o cozinha esquentar água para o chá de menta da horta do velho e para o chimarrão. a louça usada no jantar de ontem jazia esculhambada por toda a enorme pia. eu não mexi em nada. quando somos visitas, temos a obrigação de não causar. e aqui na casa dela é assim: ela acha um horror deixar a louça de molho. então ficam os pratos espalhados por metros e metros de pia.
jamais ligo o computador para escrever de manhã cedo. de manhã escrevo no papel. mas aqui, na casa que não é minha, nem papel tenho. então trouxe a velha e bela cadeira de balanço que era da minha avó para o jardim, coloquei a máquina sobre as coxas e cá estou escutando a música dos passarinhos e vendo o azul escândalo do céu de porto alegre.
os dias têm sido maravilhosos. na sombra é fresco, no sol é quente, e na piscina é gelado.
ontem minha mãe fez 70 anos. e as celebrações já tinham começado. viemos pra porto alegre três dias antes, por causa dos preços das passagens. e enquanto meu pai levava o cachorro e os netos à praça, eu trabalhava no mais absoluto silêncio. depois chegou a prima, e desde então a lívia brinca ininterruptamente da hora em que sai da cama até a hora em que volta pra ela. elas brincam sem parar e sem atritos. o nirvana.
teve produção de brigadeiros, e vários balões foram enchidos e pendurados pela sala. minha irmã comprou uma torta de nozes gigantesca, e os parabéns foram incendiários: 70 velinhas mais aqueles palitinhos quase impossíveis de acender. e a gerda apagou tudo de um sopro só.
aí veio o desejo: ela queria comer peru. não dava mais tempo de assar para o almoço, então o tal do peru foi feito para o jantar. duas amigas vieram. uma perguntou por que me separei, quase vinte anos atrás, do meu primeiro marido. pensei, e disse que era provavelmente por termos nos conhecido muito jovens. ainda bem que ela pareceu satisfeita com a minha resposta inconclusiva. a outra amiga disse que eu estava muito bonita, com o rosto feliz, e eu até pensei em explicar, mas quando vi que ia dar trabalho achei melhor ficar quieta e sorrir em agradecimento ao gentil comentário.
faz quase duas semanas que fui à minha médica, que com a doçura de sempre me deu uma dieta. dessa vez bem leve, comparada com as torturas anteriores. agora minha alimentação está sem carne de vaca e de porco, sem leite e derivados, sem glúten (nenhum cereal, só arroz integral), sem açúcar e sem bebidas alcoólicas. claro que o resultado é um afinamento rápido. as calças começam a ficar frouxas. alegria. depois de mais de dois anos que rompi com os marlboros, estou voltando ao meu tamanho original.
o velho veio até o jardim para me chamar para o café da manhã. colocarei uns pedaços de mandioca na frigideira, já que minha farinha para fazer tapioca acabou ontem. o motoqueiro que entrega a folha de s. paulo pro meu pai e pro vizinho que mora no prédio da frente acaba de subir a rua. me entregou o jornal em mãos e me deu bom dia.
vou comer.

Comentários

  1. Tita,soa delicioso estar aí. Abraço apertado para a mamã. E parabéns pela aquisição da barraca-mansão!
    Bj,
    Dani

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    Respostas
    1. darling,
      estamos de volta à casa. como dizia minha sábia, avó, viajar é bom, mas o melhor lugar é sempre a casa da gente.

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