ojeriza

acabo de aprender que ojeriza se escreve com j. eu tinha certeza que o correto era com g. diz o houaiss que significa "sentimento de má vontade, aversão, antipatia gerado pela intuição, por uma percepção, um ressentimento". e foi bem isso o que ela quis dizer quando sugeri que encontrássemos algumas pessoas.
não éramos amigas. mas marcamos um encontro na padoca. eu tenho umas ideias, ela tem outras, e queríamos falar de trabalho, na verdade. conversamos sobre muitos assuntos, menos de trabalho. contei coisas que eu não contaria pra muitas amigas. e na hora de irmos embora, eu, com minhas faltas de noção, disse que podíamos marcar outra happy hour com as pessoas com quem ela tinha trabalhado. e ela ficou me olhando quieta, e disse "não". depois completou com a palavra que diz tudo, "tenho ojeriza".
eu adoro as palavras. por isso invento algumas e, pior, uso várias com sentido errado. acho que estou dizendo uma coisa quando na veradade estou dizendo outra. o que eu acho mais engraçado do que trágico. mas escrevo tudo isso pra dizer que preciso ter a palavra ojeriza numa posição mais visível da minha lista de vocabulário.
por um defeito de fabricação, poucas vezes senti ojeriza. é um sentimento libertador. quando eu estudava italiano com a giusi, minha professora particular que fumava vários cigarros em uma hora de aula e que preparava o único café feito de nescafé decente que já provei - e que tempos depois descobri que se chamava giuseppina -, fiquei enlouquecida com a palavra "schifoso". não vou procurar a tradução. mas aprendi com a giusi que significa uma coisa que dá nojo. ou uma pessoa.
pessoas com o defeito de fabricação igual ao meu têm dificuldade de sentir/pensar/falar que fulano é schifoso porque o melhor - e mais imbecil - é achar todo mundo legal. aparentemente dá menos trabalho também.
eu precisei de décadas pra ver a ficha cair. o que aconteceu como que por uma mágica, quando ela me olhou sem dizer nada, e depois disse, com a boca cheia, "tenho ojeriza".
adorei. aprendi. e parece que não esquecerei.
...
e por falar em defeitos de fabricação, o outro que veio comigo e comigo permancerá é a mania de só ter o que eu uso. a ponto de ser um exemplo pras minhas amigas que acham que não podem doar uma roupa que não é usada há dez anos porque um dia a roupa poderá ter utilidade. talvez como pano de chão, o que é improvável, porque não costumamos guardar por anos a fio roupas 100% algodão. mas hoje recebi um texto sobre o assunto, publicado no valor econômico. ei-lo: "menos é mais".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

a minha longa história com o dr. kong

sobre a ânsia de nunca (querer) parar

o farol fechado e a pedestre boba (e feliz)