cala a boca

ele conta que o professor dele, Namgyal Rinpoche, dizia para os alunos que deviam gritar "you shut up" toda vez que o louco dentro deles surgisse. a frase completa era "you shut up and get out of the way" - você cala a boca e saia do caminho.

ao lado do meu professor, Jangchub Reid

eu não o conheci, mas pelas fotos dá pra ver que Namgyal era um homem grande. meu professor, Jangchub Reid, como todo aluno, tem histórias maravilhosas do professor dele. quando nos conta essas histórias, eu imagino o professor dele, que devia dar gritos muito altos. assim como meu professor, cuja voz muitas vezes parece sair de dentro de uma caverna muito grande e muito escura.
eu adoro frases, e "you shut up and get out of the way" eu anotei em um dos meus caderninhos de ensinamentos de Dharma. mas, como toda frase que escutamos e gostamos e anotamos, eu esqueci dela. até esses dias.

Venerável Namgyal Rinpoche

como em tudo na vida, quando nos sentamos para praticar mindfulness frequentemente o louco gosta de dar as caras. para impedir que você faça o que quer fazer, que você chegue onde quer chegar. na verdade a minha louca é um pouco mais folgada e espaçosa, e seus pitacos pra me desestabilizar chegavam a toda hora, em qualquer lugar.
há anos mantenho diálogo com a louca que mora dentro de mim. o diálogo pode ser tipo papo de gente maluca, eu falando comigo mesma; pode ser em sonho; pode ser enquanto medito, sentada da minha almofada; pode ser em forma de poema.
mas eis que dia desses escutei o que tinha de escutar. não da louca, mas de um mestre, um homem sábio daqueles que deixam a gente com o queixo caído. ele disse pra eu nem retrucar. pra eu não dialogar. em outras palavras, era o mesmo que o Namgyal dizia. cala a boca.
as lições que eu aprendo costumam entrar pela minha cabeça - anotar uma frase - e, só depois, chegar ao coração. normalmente de forma dolorosa. assim é que é. como dizia o outro, que também me parecia um homem sábio quando éramos casados, "só aprendemos nos ferrando".
não importa quanto tempo demora para aprendermos o que temos de aprender, desde que isso aconteça, mais cedo ou mais tarde.
desde que o cala a boca chegou ao meu coração, eu tenho conseguido um feito significativo: tenho me concentrado. no trabalho, com os meus filhos, enquanto cozinho, checando o saldo bancário, quando faço minhas preces e meditação.
aprender a dizer cala a boca para esses monstros é uma lição útil e libertadora. e hoje, que estou fazendo 49 anos, me sinto leve, livre e jovem, como se eu nem tivesse nem um fiozinho de cabelo branco na minha cabeça.

walk the talk, baby




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