andy puddicombe e os 10 minutos sem fazer nada

andy puddicombe, além de ter uma cara engraçada e de ser um dos criadores do headspace (um aplicativo que traz meditações guiadas e cuja missão é "levar mais saúde e felicidade para o mundo"), fez um TED Talk alguns anos atrás que é muito, muito bom. foi uma palestra em Londres, cujo título em inglês é "all it takes is 10 mindful minutes", algo como "tudo o que é preciso são 10 minutos atentos".
andy fala da importância de não fazer nada. o que é diferente de deitar no sofá para ver TV, tomar um drink num bar ou conversar com um amigo no telefone. não fazer nada quer dizer não fazer nada. mas é tão distante que a gente confunde. como assim não fazer nada? perder tempo assim?
na verdade, quando não fazemos nada, a gente ganha tempo, em vez de perdê-lo.


sem não paramos, corremos o risco de cair

esta semana terminei de ler o meu livro de prosa, sozinha é o dobro. depois do lançamento, no fim do ano passado, eu ainda não tinha lido o livro (parece que não sou a única. muitos autores jamais tocam nos seus escritos depois de publicados). e fiquei passada. faz mais de dez anos que tenho pensado e escrito sobre uma vida mais lenta, um cotidiano mais atento e sobre a importância de termos um tempo para não fazer nada. pode ser falta de criatividade, pode ser que eu seja uma pessoa insuportavelmente chata e monótona que não consegue mudar de assunto, mas também pode ser que demora mesmo pra gente conseguir desacelerar, perceber que o mundo não vai acabar caso não corramos o dia inteiro. e perceber que a sanidade da gente tem um tempo diferente da nossa fantasia ó-eu-sou-muito-eficiente-e-tenho-muito-a-fazer-com-licença-vou-sair-correndo.
em janeiro comecei a divulgar um curso de mindfulness cujas aulas começariam em fevereiro. mandei mensagem para vários amigos e conhecidos. e para algumas pessoas eu mandei mais de uma mensagem. coincidência ou não, duas ou três pessoas com quem eu tinha tido uma abordagem mais insistente me responderam a mesma, mesmíssima coisa. "estou correndo, não tenho tempo." uma delas ia viajar, outra estava com alguma tarefa doméstica envolvente, outra me disse que ia ver. mas todas disseram que estavam correndo. ainda que já tenham mostrado interesse, não poderiam fazer o curso. não havia tempo.
uma semana atrás, estávamos três pessoas em uma reunião. cada um com seu celular e laptop. íamos conversando e respondendo mensagens no celular e abrindo arquivos no computador. nisso lembrei de uma dica para reuniões eficientes: levar no máximo um computador, caso algo tenha de ser projetado, e nada mais. só pessoas e suas cabeças pensantes. nossa reunião de duas horas estava terminando quando lembrei disso e falei. começamos a rir, "até parece", ah ah ah. sim, achamos impossível fazer só uma coisa, com concentração, para depois passar para a outra. seguimos no modo automático, sem pensar, só fazendo.
pensei no andy puddicombe quando me deitei no sofá para tomar uma xícara de café. eu tenho uma dificuldade gigantesca de tomar café e só. sempre tem uma mensagem rapidinha que eu posso mandar, uma anotação que eu posso fazer, ai cadê a minha agenda para eu checar as atividades do dia?, hum, amanhã é sábado então é melhor eu me levantar e trabalhar logo. só que hoje, não. me acomodei no sofá e tomei o café sem nada mais perto das mãos além da xícara que eu estava segurando. foi glorioso.

bancos no caminho para o descanso

ao parar, mesmo que por cinco minutos, a gente se reabastece: com o ar que entra, com ideias, com uma sensação de alívio, com o corpo imóvel, com o ar que sai e leva o que tem de sair. parece fácil, mas sabemos que não é. por isso, é preciso treinar. todos os dias, uma ou duas ou mais vezes. todo dia.

outro banco no caminho

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