o jabuti, a insana e o caminho do meio

algumas pessoas são lentas. eu, não. e não, isso não é um elogio. é a constatação de uma realidade dramática.
cheguei em casa com as bochechas vermelhas. eu teria uma aula pelo computador às 9h e uma reunião às 11h. e, antes disso, eu tinha de fazer compras. não tinha mais alface nem salsa nem batatas nem limões em casa.
não percebi que tinha acordado no modo uau-sou-muito-louca-e-vou-fazer-muitas-coisas-hoje. passava das 5h30 quando acordei. diferentemente dos três últimos dias, desde que as aulas começaram, eu acordava com barulhos de um dos estudantes que mora aqui. chuveiro sendo ligado, portas sendo fechadas, uma pessoa andando firme sobre o chão de madeira. mas hoje, não. ninguém tinha acordado ainda.

o exuberante alecrim da feira

depois da rotina de quem está sofrendo de dor de garganta - gargarejo com água morna e sal, própolis e tals -, comecei a fazer a barra da bermuda da minha filha, cuja intenção era transformá-la num short. depois cerzi uma blusa de malha com perfeição, a melhor cerzida da minha vida! eu suava muito, mas pensei ah, deve ser um dos 169 sintomas do climatério ou um dos da dor de garganta.
corta para filhos que já saíram de casa para a escola. eu pensava no que estaria fazendo caso morasse sozinha (mães pensam isso?) e tivesse uma reunião às 11h. primeiro, não iria comprar frutas nem verduras nem coisa nenhuma. segundo, não iria colocar os uniformes das escolas dos meus filhos na máquina de lavar roupa. terceiro, não iria recolher o lixo, porque ele não estaria cheio. quarto, não teria acordado às 5h30. quinto, não teria cerzido nenhuma blusa tampouco feito a barra de uma bermuda que deveria se transformar num short mas que não deu certo e a minha filha se nega a usar.
tomei um banho de menos de 10 minutos e olhava no relógio enquanto colocava as meias. hoje está quente, mas com tênis eu andaria mais rápido do que de chinelos na minha ida às compras. caminhei tão rápido que cheguei ao entreposto orgânico em 20 minutos, dez a menos do que levaria se estivesse andando tranquilamente.
que maravilha para uma insana chegar a um lugar dez minutos antes da hora em que abre! me encostei num suporte de bicicletas na calçada e respirei aliviada. o vento batia no meu rosto e ia secando o meu suor.
compras a jato, fiz uma piada na hora de ir embora, queria ser rápida e acabei me atrapalhando ao colocar na mochila e no carrinho as minhas verduras. voltei pra casa e quando entrei na cozinha ainda faltavam dez minutos para começar a minha aula.
corri para pegar um chá e ir ao banheiro e pegar uma colher de mel e sentar na frente desta máquina antes de a aula começar. ah ah ah, mas havia problemas técnicos e a aula começou somente às 9h10. e lá pelas 9 e meia um pau na internet do sítio onde a aula estava sendo dada ao vivo fez com o vídeo do meu professor congelasse, o áudio sumisse e, na sequência, o vídeo virasse uma mancha de uns 3 ou 4 cm na minha tela. o vídeo ficou minúsculo. e congelado.
espera, tita. respira. e nada. e nada. e mais nada. saí da sala virtual.
e então minha reunião das 11h foi adiada para o fim da tarde. ah que alívio. poderia trabalhar. e cozinhar. e foi o que eu fiz.
suando muito, me sentei na minha cadeira e comecei a escrever. eu tinha passado sete ou oito dias andando feito um jabuti. pesada e lenta. e com dor de garganta. fazendo somente o que não podia deixar de ser feito, sem achar graça em nada, absolutamente nada. hoje, acordo curada da lerdeza e infectada pela insanidade dessa velocidade estonteante.



e para terminar o dia em grande estilo, ao andar para casa depois de tomar um café com uma amiga, olho para o céu e vejo nuvens grandes e escuras se movimentando com rapidez. um vento forte me faz andar com óculos de sol, apesar da escuridão atípica para as 4 da tarde, para tentar impedir que grãozinhos de poeira e areia de uma obra gigantesca entrassem nos meus olhos. pingos começam a cair, e as pessoas começam a correr - eu inclusive. corro as muitas quadras que me separavam da minha casa tentando manter o ritmo. ando um pouco para recuperar o fôlego e volto a correr. chego em casa com as bochechas vermelho-arroxeadas e suando hectolitros. a roupa e os cabelos molhados. fiquei surpresa ao descobrir que apesar de ser uma adepta light dos exercícios físicos, corri muito. não sei quantos metros tem um quarteirão, mas eram uns cinco, pelo menos. 
cadê o caminho do meio?

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