como é difícil mudar

chegamos em casa há pouco. altas horas da madrugada para quem acordou às 5am. e mais altas horas ainda para duas crianças que acordaram pouco depois das 5:30am, foram pra escola e depois passaram a tarde brincando e jogando futebol.
mas dessa vez foi diferente. eu fui buscar as crianças sem pressa e sem mau humor. resgatei um em cotia. ele jogava wii com o amigo, e reinava o mais absoluto silêncio, porque todos os outros convidados já tinham partido. aceitei a cerveja que a anália me ofereceu, e nos sentamos na cozinha da maravilhosa casa que ela e o marido construíram, onde o cheiro do mato é fresco e forte e a lua de fato ilumina o jardim. tomei a cerveja tranquilamente enquanto conversávamos sobre morar no meio do mato ou morar em são paulo. e então partimos rumo à granja viana.
a lívia estava na festa de aniversário de uma amiga. dessas festas com alma, em que a tia fez o bolo, e a dona da casa cozinhou macarrão para as crianças que tinham fome. mais uma vez me sentei, e tomamos vinho e comemos pão italiano com prosciutto crudo. conheci os irmãos e a mãe da dani, a dona da casa, e conversamos sobre várias coisas legais. as crianças brincavam na santa paz. e os adultos conversavam felizes.
pegamos a estrada de volta a são paulo e chegamos em casa em poucos minutos. à noite não há muito trânsito em são paulo. as crianças dormiram e eu tive de escrever sobre a leveza, as mudanças e o perdão.
é como se uma casca grossa de tartaruga que eu carregava tivesse sido deixada no meio do caminho. depois de muito esforço, suspiros e mau humor, consegui me desfazer da casca. a analogia com esse casco vem de quando eu tinha uns 16 ou 17 anos, e me sentia muito, muito triste. e então me dei conta, com a ajuda de alguns anjos, de que eu estava carregando uma casca cheia de tristeza e prostração. lembro como se fosse hoje o dia em que saí andando pelas calçadas de petrópolis, um bairro com casas antigas de porto alegre, e me senti incrivelmente leve.
a mesma leveza estou sentindo faz alguns dias. foi bem sutil. eu comecei a reclamar, ó-vida-ó-céus, e ele disse mas-você-não-cansa-de-sempre-reclamar-do-mesmo?. eu fiquei boquiaberta. sim, eu estava cansada de reclamar. e então o casco caiu.
agora sim posso rir, perder as toneladas que carrego desde que parei de comer marlboros, chegar tarde para buscar meus filhos nas casas dos amigos, trabalhar no meu tempo e ser muito boa, respirar sem faltar o ar, escutar elogios sem desprezá-los, descartar do convívio diário as pessoas chatas. consigo viver um dia depois do outro sem achar isso um fardo, nem fazer apologia do casamento. consigo falar mais baixo, andar mais devagar, abraçar com o coração e observar o mundo com serenidade. e com a certeza de que há um caminho, e que ele pode ser suave.
disse thoreau:
"nossa visão é bastante ampla enquanto passeamos nas serras montados a cavalo; no entanto podemos ver muito mais quando caminhamos; porém alcançamos o máximo de observação quando permanecemos sentados em um só lugar."
...
deus esteja.

Comentários

  1. Lindo, Tita! Até eu sinto o alívio do peso lendo teu texto!
    Bjs,
    Dani

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  2. Que a vida fique cada vez mais leve, querida!

    Bjs,

    Anália

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  3. t-o-m-a-r-a, anália! e que sempre tenhamos amigos que nos oferecem uma cerveja gelada depois de uma hora cantando dentro do carro na raposo!

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