as baratinhas no boteco da esquina

há anos, vários anos, passo por aquele boteco e digo pra mim mesma: um dia venho tomar uma cerveja aqui. e eis que percorro vários quarteirões da vibrante vizinhança e não encontro nenhum bar decente aberto. é estranho, como bares abrem somente à noite nesta cidade cinza.
depois de andarmos um bocado, paramos no boteco que fica a uma quadra da minha casa. minha amiga e eu, num happy hour depois de uma rápida reunião. era o meu rodízio, e eu tinha de parar o carro até as 17h, sob risco de ser multada se não o fizesse. por isso saímos andando em busca de um lugar decente para tomar uma ceva gelada.
minha amiga é mais velha do que eu. leia: mais sábia. eu, louca pra ir ao banheiro, e ela já pergunta pro garçom se é preciso "pegar a chave". claro que era. e quando me encaminho ao banheiro um dos funcionários gentilmente pula na minha frente com o braço esticado para me dar a chave. isso deve ser uma das coisas mais brasileiras do mundo: a chave do banheiro das mulheres - acho que a chave para o banheiro dos homens não rola.
bem, o banheiro havia sido lavado, mas pequenas baratinhas andavam alegremente pelas paredes. poucas, duas ou três, mais umas primas delas, que jaziam mortas no chão. mas o banheiro cheirava bem. "depois de algumas cervejas a gente faz xixi em qualquer lugar", tinha me dito a inês, para me confortar. por isso só fui ao banheiro quando terminamos a primeira garrafa.
ela é dessas amigas que se eu ficar um ou dois anos sem ver, quando encontrar vou conversar como se nos encontrássemos todos os dias. e dessa vez não foi diferente. trabalhos, amigos, namorados, ex-maridos, filhos, dinheiro, paqueras e decepções. tudo.
e então ela surge com a frase que eu desconhecia, e cuja existência meu amigo não lá muito confiável google confirma: "as melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos", disse o machado de assis.
falávamos de encontros e desencontros. e de homens corajosos, homens de verdade, homens com cojones. e a frase tem um contexto. ei-lo, segundo o mesmo google: "as melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. mulheres são como maçãs em árvores. as melhores estão no topo... os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados... elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore".
graças a deus a autoria é de um homem - caso contrário, eu poderia ser acusada de porca feminista, o que para mim seria uma ofensa gigantesca.
mas na verdade isso (o texto do machado de assis) é só uma desculpa para usarmos quando quem queremos não nos quer. ó vida, ó céus. o maior milagre da existência, desde que eu me entendo por gente, é duas pessoas se amarem. porque amarei um e não o outro? e por que este meu amor também me amará?
lembro dos meus casamentos e me conforto: existem encontros felizes. é claro que preciso ver fotos para me lembrar disso. lembrar que fui muito feliz e que duas pessoas podem se amar.
e enquanto isso sigo louca pensando que "os casados são felizes". motivo de muitas gargalhadas ao longo do meu dia, em que encontrei muitas mulheres belas, inteligentes, casadas, divertidas e cansadas.
hellooooooo.
 

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