os presentes de natal sob medida

as horas se arrastam. mas o pior já passou.
estava exasuta, em todos os sentidos em que estar exausta se enquadra. e só por isso - podia ter uma explicação mais complexa, para não ficar me enchendo de culpa - não viajei para passar o natal com os meus pequenos filhos.
fiquei tentando me lembrar de uma mãe adorável que tenha feito isso, e não me lembrei de nenhuma. então fiquei em primeiro lugar da minha lista. não de mães adoráveis, óbvio, mas de mães que estão exaustas e, por isso, decidem ficar em casa sozinhas para passar o natal.
na verdade, não fiquei sozinha para passar o natal. fiquei sozinha porque o natal era agora, e eu estava impossibilitada de viajar.
as crianças foram. para minha alegre surpresa, foram e estão felicíssimas. para elas, o natal consiste em ganhar presentes. para mim, consiste em outras coisas. e está sendo horrivelmente triste e encantador estar só nesses dias todos e descobrir o que são as "outras coisas".
fiz uma lista de coisinhas que eu tinha de fazer. para tentar não me sentir desesperadamente só. e em enchi de filmes. depois de ir ao cinema dois dias seguidos, passei na locadora e peguei outros cinco filmes. li um livro que comprei para dar de natal para o meu filho e estou terminando outro que peguei emprestado na casa de uma amiga.
ganhei de presente de natal não entrar na cozinha. quando liguei para os meus amigos onde eu passaria a noite de natal, para combinar o que eu levaria, ouvi como resposta "nada". muito doce, muito gentil.
de mim, eu ganhei de presente o respeito. escolher estar só e ficar só são sinais de respeito, e só quem percebeu isso foi meu coração. e ele, o coração, agradeceu.
para as crianças, dei de presente férias de mamãe na casa do nonno e da vovó. e isso não são férias: isso é o nirvana. e eles sabem disso.
hoje o dia se arrasta mais do que os outros. até porque nos outros as horas andaram. eu tinha muito medo do contrário. e mesmo sem fazer as coisas da lista, eu sempre tinha algo para fazer. mas hoje, finalmente, fiquei sem vontade de andar de bicicleta, sem vontade de sair para o cinema, sem vontade de ir à casa de amigos tomar banho de piscina. e faz um mês que não tenho vontade de dizer feliz natal para ninguém.
desejei feliz natal para a santa nalva, e talvez para a minha mãe, quando ela me ligou ontem de manhã. não achei nada feliz, e esses dias lerdos e quentes estão chatos, mas úteis. para a minha hibernação.
na véspera do natal, minha amiga fez uma oração. leu um texto lindo. e ainda deu um pequeno e delicado móbile de papel que ela e a filha fizeram para cada um dos muitos convidados que estavam na casa deles ontem à noite.
queria dormir antes da meia-noite. não ia aguentar de forma decente os "feliz natal" que viriam. vim para casa com medo. com mais medo do que jamais lembro ter sentido. estava tudo escuro. tinha parado de chover, mas em noites de natal as pessoas não andam pelas ruas. uma ou outra pessoa, o que dava mais medo ainda.
eu não conseguia encostar minhas costas no banco do carro. vinha atenta. fui acertando o caminho, peguei a estrada, depois a marginal. os carros iam rapidamente, e eu também. mas muito atenta. cheguei em casa e senti um alívio ao ver as luzes do apartamento da nina acesas. quando entrei em casa, podia escutar as vozes e os barulhos dos pratos no apartamento em cima do meu.
dormi aliviada por ter conseguido passar um natal assim como eu achava que tinha de ser. sozinha, mas com amigos.
o que mais senti falta foi do purê de maçã. nunca mais passarei um natal sem prepará-lo.

Comentários

  1. Feliz Natal e um próspero Ano Novo, Tita!
    Bjoks,
    Luiza Goulart :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. querida, que surpresa! por onde andas? estou torrando em sp. espero que esteja tudo bem. e que as festanças de fim de ano sejam leves e divertidas. bjs pra ti!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

sobre a ânsia de nunca (querer) parar

a minha longa história com o dr. kong

o farol fechado e a pedestre boba (e feliz)