eu sabia que eu ia chorar

saindo de casa muito cedo

o porta-malas mais bem organizado de todos os tempos

o joão

a lica
saímos cedo. era a minha prova da coragem. a última do ano. claro que só me dei conta disso depois de dirigir os pouco mais de 1.100 km que separam minha pequena casa da grande casa onde moram os meus pais, no extremo sul do país.
combinamos, as crianças e eu, que iríamos sem pressa de chegar. mas isso só valeu até entrarmos no carro. ao pegarmos a estrada, os pequenos joão e lívia começaram a dizer que não viam a hora de chegar a porto alegre.
pegamos muitos acidentes na nossa frente, o que nos fez parar por horas e horas. e conseguimos manter o bom humor. passadas as primeiras 12 horas de estrada, meu filho olha pra mim com aquela cara do anjo incompreendido e sugere que sigamos noite à dentro. explico que faltam 600 km, e que eu não dou conta de dirigir à noite. ele logo começa a bocejar, e aceita a nossa parada no norte de santa catarina.
minha ideia de um belo banho de mar ou uma noite num 5 estrelas caríssimo vão por água abaixo. quando a bunda começa a doer e você é o único no carro que dirige, é hora de parar.
no outro dia seguimos viagem nem tão cedo. estávamos cansados, e eu queria fazer uma viagem lenta. não consegui. as crianças queriam chegar logo, e com a estrada vazia pude andar bem. o joãozinho dava risadas do nosso carro - um carro pequeno, econômico e não tão veloz. mas o carrinho deu conta do recado, e andava a contento. o gasto de gasolina era ridículo. ora 17km por litro, ora 14,5km por litro. fui dirigindo e durante o tempo todo combinando comigo mesma que o próximo carro será maior, mais veloz e menos econômico. o raciocínio faz parte do nem-toda-economia-é-inteligente. vamos pegar muita estrada, passada esta prova da coragem.
aqui no forno alegre estamos nos divertindo à grande. mesmo sem mar.
...
a estrada que liga são paulo ao sul do país é linda. minha filha tirou fotos ao longo do trajeto, e ia editando o material no banco de trás. de vez em quando dizia "essa parece uma pintura". ela não abria a janela para fotografar, então quase todas as fotos foram feitas através do vidro.
eu comecei a chorar em santa catarina. primeiro a estrada faz uma curva e podemos ver o mar. depois vemos aquelas montanhas verdes e exuberantes. eu chorava e dizia pras crianças "é por isso que viemos de carro". a cada montanha eu lembrava por que tinha resolvido dirigir um caminho tão longo.
...
depois a confusão da família quase me fez esquecer a exaustão. e a alegria. mas no outro dia, com o corpo doído, peguei uma lotação - um tipo de transporte mui civilizado que existe aqui na capital gaúcha, que é um microônibus limpo, confortável e com ar condicionado - e fui para o hospital. era o meu dia de dormir com ela, que tinha sido operada um dia antes, enquanto seguíamos pela BR-101. eu ia descendo a rua até o ponto da lotação e comecei a chorar de novo. não havia montanhas lindas, mas eu estava muito tocada. tinha combinado comigo mesma que esta viagem seria um presente para os velhos. eu iria viajar para visitá-los e estar com eles. e a caminho do hospital lembrava disso e chorava.
já estamos todos em casa. todos felizes da vida. e eu estou dando o meu presente, que vai durar alguns dias.

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