sobre o dia em que fui ao fórum falar a verdade e nada mais que a verdade

"o que você faz depois de uma audiência com o seu ex-marido?", ela me perguntou. sugeri que comprasse um vinho. e que celebrasse, mesmo com tristeza e estupefação, depois que os meninos estivessem dormindo.
os meninos chegarão tarde hoje. estão na casa do pai. que bom. ela poderá celebrar antes de os meninos chegarem e depois que eles dormirem.
mas celebrar o que mesmo?
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éramos três na sala de espera do fórum. sim, ela conseguiu que três amigas fossem até lá para responder às perguntas do juiz. audiências de conciliação não são um ambiente simpático. e assim foi. a advogada nos advertiu: juízes nem sempre chamam as testemunhas. não estávamos incomodadas com isso. sendo chamadas ou não, tínhamos ido lá e isso era o que importava. somente duas foram chamadas. uma de cada vez. tenso e chato. você quer ajudar, você conhece o ex-casal. mas estamos falando de dinheiro e dinheiro é um tema sombrio e sua sombra é gigantesca.
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meu sogro querido tinha horror de extremos. ele era um extremista em tudo o que pensava e fazia, mas me ensinou essa bela lição. e eu tenho horror do que é inflexível, do que não muda e do que é extremo. por isso não defendo um lado ou outro. isso tudo é só pra evitar que imaginem que estou escrevendo a partir do ponto de vista de uma feminista. 
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éramos três. todas mães e separadas. uma não recebe pensão de alimentos para a filha porque não precisa. a outra não recebe, precisa e diz ser "injusto" a mulher arcar com tudo, mas não mencionou ações na justiça nem advogados. nunca casou, nunca fez acordos de guarda nem de pensão, e o pai do filho paga quando pode e o que pode.
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afe que assunto mais chato. criar filho sozinha/o é duro e ninguém merece. blá blá blá. eu não vou entrar em detalhes porque meus textos são autobiográficos, mas não escatológicos. 
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minha amiga brasileira que casou com um inglês e com ele teve dois filhos acaba de se divorciar. diz ela que a justiça britânica é correta. ela ganhou dinheiro para dar entrada em um apartamento. nos últimos 6 ou 8 anos ela ficou em casa cuidando dos meninos, levando e buscando da escola, cozinhando, brincando. isso foi considerado no divórcio, na separação dos bens, nas quantias devidas por cada parte e no valor da pensão de alimentos que os meninos irão receber.
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talvez o meu mundo e as pessoas que eu conheço e as histórias que eu escuto sejam restritas e não sejam a realidade da maioria. mas fico intrigada com o número de mulheres com filhos e sem marido que trabalham e pagam contas e criam filhos e precisam sentar numa cadeira na frente de um juiz para contar que quando eram casadas o marido ganhava R$ 30 mil então não é possível que agora ele ganhe tão pouco que só possa pagar R$ 3 mil por mês para ajudar a criar/alimentar/educar/divertir dois filhos, três filhos, talvez um filho. 
que cálculo é esse que é feito sobre o salário dos pais, mas não é feito sobre o salário das mães?
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uma amiga querida recebe R$ 400 por mês como pensão de alimentos para o filho. e quem paga é a sogra dela. o pai do filho, pelo que entendi, não paga NADA. ele tem dois braços, duas pernas, é um cara divertido, tem uma profissão, é muito bom no que faz e é reconhecido. 
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eu adoro ser mãe. mas jamais pensei que isso fosse uma tarefa solitária.
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prefiro escrever sobre alegrias a escrever sobre tristezas. mas foi muito duro passar uma tarde no fórum. minha dor é a dor de todas as mães que literalmente se esfolam para criar filhos sozinhas. 
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deus esteja, 

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