carta para R

querida amiga,
ironicamente começo a escrever esta carta no dia dos namorados. brindamos ontem e hoje você disse que irá brindar novamente, com a sua amiga, com vinho e bombons.



eu fiquei muito tocada ontem quando você disse que está muito cansada. eu sei o que você está sentindo, porque eu já me separei. vi ruir o castelinho de areia que teimamos em construir quando nos casamos, mesmo sabendo, desde muito pequenas, que a qualquer momento uma onda vem e desmancha nosso castelo construído sob o sol escaldante da praia. quando somos crianças, a construção leva uns minutos, talvez uma hora. mas quando nos tornamos adultas, leva vários anos.
você sabe que para duas pessoas se separarem, é preciso muita coragem. e muita lucidez também. e ainda resiliência, para aguentar o espaço que se abre - que em alguns momentos parece uma plantação de lavanda, mas em outros parece um rombo escuro dentro do estômago da gente. e nessas horas, o estômago da gente dói como se fosse um órgão doente.
tem os dias de chuva, e tem os dias de sol. e esses são seus dias de chuva. eles vão passar, e você sabe disso - mesmo que o cansaço a leve a esquecer ou a faça se atirar no sofá, exausta.
é um privilégio ter uma amiga tão lúcida, tão sã como você.
carry on with dilligence, como diz o nosso professor. eu estarei ao teu lado, sem medo de me molhar na chuva. e quando o sol aparecer, vamos tostar!
feliz dia dos namorados pra você. que eu nem sei por que você vê tanta graça nessa data, que me parece meio boba. quando não temos namorado, é uma chatice. e quando temos, não precisamos de um dia para celebrar, né? porque todos os dias são para celebrar. o difícil é a gente lembrar disso todos os dias - com ou sem namorado, com chuva ou com sol.



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