o bacalhau da dona margarida

os dias vão passando e eu nunca consigo abrir este blog e escrever algo. rabisco umas ideias num bloquinho velho que carrego no meu carro, carrego o bloquinho dentro da bolsa pra ter minhas anotações por perto, e nada.
mas eis que hoje saí da cama mas não consegui sair de casa. uma dor de garganta que me incomodava havia dois dias virou uma gripe com direito a nariz entupido, dor no corpo, cara que quem não dormiu - mesmo depois de uma noite de 10 horas de sono -, um pouco de febre, rinite ou sinusite - não sei qual, mas sinto dor no rosto - e vontade de ficar deitada.
passei o dia dentro do meu quarto, enquanto meus dois filhos mais os dois filhos da nalva brincam, ora na sala, ora no pátio. vou trabalhando, pensando em como ia ser bom se eu não tivesse de trabalhar hoje.
a recomendação médica é tomar muito líquido e comer comidas quentes e apimentadas. eu não costumo falar com médicos por causa de uma gripe, mas minha amiga me conta que o cunhado dela morreu semana passada de pneumonia silenciosa, o que me faz ligar para o consultório. depois do telefonema médico, fui até a cozinha e encomendei uma sopa.
depois de quase 40 dias, minha casa voltou a ficar cheia. passei o mês de janeiro vivendo como se fosse uma moça solteira sem filhos. o período foi tão longo que quando fiz compras para esperar as crianças calculei os mantimentos para uma semana, mas eles acabaram em quatro dias.
as férias infindáveis das crianças chegarão ao fim em poucos dias. eles fizeram muitas coisas boas. viajaram para o sul, onde ficaram sem esta que escreve por quase duas semanas. viajaram pro litoral norte de sp, também sem a mãe. eu também fiz muitas coisas boas, coisas que fazem as moças solteiras sem filhos. caminhei cedo de manhã, cozinhei muito, trabalhei feito uma mula bem jovem, encontrei muitos amigos para conversar, jantar, ir ao cinema, tomar cerveja, fazer compras. li alguns livros, dormi e deitei na rede para ler o jornal.
no nosso primeiro fim de semana juntos depois de longas férias, deixei as crianças escolherem os passeios, e passamos dois dias ótimos. eu tinha cumprido com todas as minhas obrigações domésticas na sexta, quando elas chegariam, pra que no sábado estivéssemos livres. eu me sentia mesmo uma moça solteira sem filhos, arrumando a casa para esperar uma visita especial. arrumei as camas, molhei as plantas, comprei as frutas que eles gostam.
e ficamos em casa. que é a melhor coisa do mundo quando voltamos de viagem. mas fomos convidados para almoçar na casa da dona margarida no domingo. o prato? bacalhau. aceitei o convite. e ainda combinamos, meus amigos e eu, de irmos com as crianças ao parque antes do almoço.
na hora de arrumar as coisas para o parque, eu, mui animada, coloquei trajes próprios para caminhada, e disse ao meu filho que levaríamos não só os patins novos, presentes de natal, como as bicicletas. mais frutas e petit gateau que tínhamos feito no sábado, chimarrão, canivete, uma manta para colocar sobre a grama do parque, meu jornal, bonés para todos, protetor solar, garrafinhas com água gelada. sim, eu tinha certeza de que iria fazer muitas coisas no parque. mas na hora de sair de casa achei que era megalomaníaco levar as bikes. no estacionamento do parque, deixei o jornal no banco do carro. quando encontramos uma sombra e esticamos a colcha, me dei conta de que as crianças precisariam da minha ajuda para andar com os novos patins. sim, eu os ajudaria e não caminharia. meus amigos chegaram, e era um dia especial, a estreia da pequena mariana no parque. o marco saiu para correr, a paula ficou com a mariana, e eu me dividi entre patinar com um, patinar com outro.
no fim, pensei, é uma delícia ir ao parque, sempre. mas sempre fazemos o que as crianças querem, não o que queremos.
como o calor era surreal e desagradável, combinamos de mergulhar na piscina antes do almoço. passei em casa para pegar sunga e maiô, e por via das dúvidas meti um pacote de massa barilla na bolsa. estava com um pouco de vergonha, mas e SE meus filhos não PROVASSEM o bacalhau?
e então, surpresa! a dona margarida teve de abrir a mesa, porque a paula e o marco, nora e filho dela, não haviam dito que levariam uma amiga com dois filhos. e quando o bacalhau chegou à mesa, meu filho, que costuma provar um alimento novo a cada seis meses, aproximadamente, provou e GOSTOU do bacalhau! sentada à minha direita, a lívia só queria batatas e ovos. sentado à minha esquerda, o joão só queria bacalhau! melhor administrar os desejos de caça predatória dos filhos - catando só uns alimentos de um prato - do que ter de fazer macarrão na casa da anfitriã, que nem minha amiga é.
e à noite, em casa, na hora do jantar, o joão olha pra mim e diz "tem bacalhau?".

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