eram 18h58, e eu na cama

assim como o dinheiro, que a gente pode usar onde quiser e perder o controle, a nossa energia pode evaporar sem a gente saber onde foi parar.
e foi sem me dar conta disso que achei que dois anos com calças dependuradas no armário sem uso eram o suficiente. cito as calças mas há também os vestidos, as bermudas e os shorts. e então copiei a dieta medieval detox que eu gosto de fazer de vez em quando e que fazia dois anos, desde que os marlboros e eu rompemos a relação, que eu não conseguia fazer. nesse longo período de mais de 600 dias, descobri que carregar quilos a mais não era privilégio de comilões que têm preguiça de fechar a boca. há os que não conseguiam fechá-la, mas como isso nunca tinha acontecido comigo, pensava que não existisse.
colei a folha de papel com as instruções da dieta detox ao lado da mesa da cozinha, onde meus filhos e eu costumamos tomar o café da manhã e jantar. comprei tudo o que era preciso - iogurtes, toneladas de verduras, pão sueco - e avisei a doce nalva que eu estava fora do cálculo quanto-de-arroz-e-grão-de-bico-devem-ser-feitos-hoje?.
voltando à energia, falei pros meus amigos que eu havia feito uma lobotomia. sinceramente não sei se essa palavra cabe aqui, mas o fato é que passei nove dias sem sofrer, comendo muito pasto e desperdiçando zero de energia. como? não, eu não fiquei mais sábia. eu simplesmente só tinha energia para o necessário. acordar, tomar banho, transportar filhos para e da escola, trabalhar.
e nesse ritmo, dia desses me deitei na cama e resolvi dar uma olhada no relógio. eram 18h58. dormi até o outro dia. e fiquei impressionada. tinha quebrado meus recordes históricos de dormir cedo sem estar doente.
já livre da metade do peso que eu carregava a mais, voltei a comer comidinhas com mais substância depois de nove dias à base de uma dieta bem verde, ah ah ah.
...
não quis dizer a elas que estava com restrições alimentares. esse assunto é tãããão chato, e só costuma interessar a pobre vítima que está ingerindo 1/5 das calorias que gostaria de ingerir por dia. no caso, a vítima - feliz, preciso falar - era eu. então elas vieram jantar aqui em casa. amigas antigas. dessas que a gente passa seis meses sem ver e quando encontra abraça e conversa como se todos os dias nos  encontrássemos no elevador do prédio.
mulheres costumam fazer barulho quando estão juntas. mas quando faz tempo que não se encontram, além de fazer barulho, não dão conta de completar as frases que começaram. fomos dando conta da balbúrdia até que começamos a ver fotos de uma viagem que fizemos juntas no século passado, mais especificamente em 1989.
gargalhávamos de chorar sentadas no sofá. éramos felizes com tudo e com nada também. 'o que estávamos fazendo aqui nesse parquinho?' a lu perguntou. estávamos nos divertindo. passamos nos divertindo dois meses e meio, se não me engano. talvez três. também nos demos conta de que não tínhamos medo. íamos de cidada em cidade, sem plano de viagem, e tudo era sempre bom. dormir no trem, no hostel lotado, na estação de trem. comer sanduíches, dormir num camping sem ter uma barraca, dormir no deck do navio 'porque era mais barato', lembrou a lu. fumávamos cigarros e nos achávamos incríveis. rasgávamos as roupas - uma camiseta podia virar uma saia, um moletom era transformado em colete e uma calça podia ser uma bermuda ou um short.
'estamos velhas' disse a dani. ou será que foi 'estamos ficando velhas?', numa tentativa de lidar com o tema com simpatia?
acordei com os passarinhos, como sempre, e antes do sol. e com a alma lavada.
...
e para deleite, a carla, que não é amiga desde 1989, mas desde o fim do século passado, publicou uma receita que parece s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l: cheese cake de goibada e brigadeiro branco. tudo por causa de uma corrente com receitas que mandei pra ela!

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