o domingo e o melhor de são paulo

não lembro sobre o que ele tinha escrito naquela coluna. mas dizia que, para duas pessoas que casam, é preciso gostos afins. e, para ele, uma das coisas era no domingo sair da cama, pegar o jornal e voltar pra cama.
e então olho o título da revista que vem encartada no jornal de domingo, "o melhor de são paulo", e começo a gargalhar ao pensar o que o melhor da cidade agora é a minha cama.
passeio de bicicleta na beira do rio, corrida na praça, ida ao bairro japonês para comprar tofu de alta qualidade. todos os planos foram abortados.
sigo feliz aqui. lenta, com o jornal repousando sobre um travasseiro, minha agenda, um livro hilário. e, no meu colo, esta máquina com a qual escrevo. tenho sono, mas não aquele sono de dormir. é um sono de ficar mole mesmo. o bom é que sempre dá pra gente aprender coisas e descobrir outras (dá no mesmo, non?). por isso que eu adoro cada fio branco que pula - sim, eles têm vida e movimentos prórpios - da minha cabeça.
...
eu tinha saído de casa com o horário quase apertado. tinha hora marcada, estava com preguiça, mas tem semanas em que o sábado é premiado com afazeres que não couberam durante a semana. e lá fui eu pra um salão de bairro. uma casa cuja sala tem uma janela gigantesca e onde seis manicures trabalhavam concentrada e animadamente. mulheres jovens e belas entravam e saíam.
a que veio fazer a minha mão falava alto, e com todas. mas não era chata. ao contrário, era animada e doce. me elogiou, dizendo que "minhas sobrancelhas grossas eram muito bonitas". bem, eu nem considerava as minhas sobrancelhas grossas. muito menos bonitas. ponto para a manhã de sábado. elogios inéditos sempre valem mais que elogios recorrrentes.
não sei como o assunto foi pra casamentos e descasamentos, e a áurea - esse é o nome dela - me diz que criou o filho sozinha, que agora está com 29 anos. como ela parecia ter uns 40, 45 anos no máximo, pensei meu deus!, ela deve ter sido mãe muito nova. e então a pergunta "quantos anos você tem?" salta da minha boca antes de eu pensar se isso seria elegante. "55", responde ela. eu, que já estava meio passada, fiquei boquiaberta. "e você?", vem o troco da parte dela. digo que tenho 41.
"ah!, aos 41 eu estava no meu auge!", diz ela. imediatamente fico em dúvida se ela estava me chamando de bagulho ou se ia me contar algo. quando ela diz que "fazia amor duas vezes por dia". e me conta que namorava um português que era o "capeta". e elogia o cara, que, diz, era bonito, gentil, gente boa.
eu gargalhei com as histórias da áurea até sair do salão com as unhas pintadas de vermelho, a chave do carro pendurada num dos dedos, e a bolsa no ombro. no fim ela disse que agora estava "aposentada". não queria ninguém na casa dela. achava bom poder soltar as "bombas" dela quando quisesse. e ao contar isso, da aposentadoria, parecia verdadeiramente feliz.
...
dificilmente eu tenho duas consultas seguidas com o médico chinês que cura até dar na alma com massagem e acupuntura. mas a coisa tinha ficado feia. eu não tinha conseguido dormir, porque não dava para me virar na cama. a dor nas costas era horrível. fui no dr. kong, e quando voltei, tive de ficar de cama. o cansaço e a dor eram violentos. finda a primeira sessão, ele havia dito que eu deveria voltar outra vez.
volto dois dias depois com dor ainda, mas pouca. e então recebo massagem na nuca, nos ombros e na cabeça. quando ele termina, milagrosamente consigo mexer meu pescoço. e ele encerra com chave de ouro: "pescoço fora do lugar. dolorido, muito dolorido".
saí de lá pensando meu deus, o pescoço fora do lugar! dessa vez eu tinha me superado. legal que o corpo fala, e isso não é uma piada, claro. mas às vezes a fala vira grito...
está quase passando. e contra as minhas expectativas, aparentemente terei de receber mais uma sova na nuca. porque hoje, um lindo domingo de céu muito azul, o pescoço acordou lesado mais uma vez.
...
eu estava no carro, dirigindo, quando o telefone tocou. sabia que era ela, porque aparecem vários zeros no meu celular quando ela me liga usando o skype, creio. assim que estacionei liguei de volta, e fui andando na calçada em direção ao escritório enquanto ela me dizia que precisava de ajuda para achar um site. e como eu era boa nisso - mais um ponto, outro elogio inédito, eh eh eh -, tinha me ligado.
ela queria entrar em contato com o fabricante do DTA power strech jeans. como eu estava andando e não conseguiria anotar, pedi que me mandasse um e-mail, que eu responderia assim que chegasse ao trabalho. e fui andando e gargalhando, pensando, meu deus, o que será esse super fucking mega blaster jeans? só podia ser coisa da lia, minha sogra, uma mulher animadíssima, que sabe comprar roupas sapatos joais e bolsas sensacionais, como poucos.
quando entrei no site para achar o que ela queria - o site era um lixo, e demorei uns minutos, clicando em vários botões, até descobrir onde estava escondido o "fale conosco", não resisti e cliquei na coleção. calças maravilhosas. e eu quero uma pra mim. suspeito que a lia vai comprar uma beeem justa (segundo o fabricante, são "jeans modeladores"), que ela adora. eu, que não dou conta de calças justas, comprarei uma hum, como se diz isso sem ser chula?, não sei. uma calça larga? uma bombacha estilizada? uma calça "roubei esta do meu namorado"?. tentei ver no site, que agora não abre. sorry.
...
sigo na cama.

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