Só sendo uma santa
Parte do cansaço de criar filhos vem da minha loucura.
Após anos jurando que não serei como meus pais, dia desses,
conversando com o meu filho, escutei sair da MINHA boca que eu, na idade dele, “corria,
fazia ginástica, dançava num grupo da escola” e não sei o quê mais. Assim que
terminei a frase, morri de vergonha.
O que é que os meus filhos têm a ver com o que eu fazia ou
não fazia na idade deles? E o que eles têm a ver com o que eu quero que eles
façam?
Toda a teoria de “boas práticas” no lar escoa pelo ralo. E eu
fico pensando por que é tão tentador repetir as frases bestas que eu ouvia
quando eu era criança e que eu achava tão abomináveis.
Falar que aceitamos os filhos como são, uns CDFs, outros
folgados, uns comilões, outros anêmicos, uns extrovertidos, outros quietinhos,
uns fortes e outros nem tanto, é dureza. Aí vem mais dureza: depois
de aceitá-los como são, ver e perceber que eles não pensam como nós,
não agem como nós, não vivem como nós.
Socorro.
E é só quando eu fico na minha, morrendo de vontade de falar
algo, mas sabendo que não devo dizer nada, é que consigo aprender com essas
pessoas que vieram ao mundo pela minha barriga. Claro que depois de conseguir
ficar quieta e conseguir prestar atenção no que eles têm pra me dizer, caio na
gargalhada e me sinto a mais anta de todos os seres. A mais bocó, ingênua e
louca.
É claro que não estou falando de regras básicas para o
convívio doméstico pacífico, como o banho, a roupa limpa, as refeições diárias,
o prato retirado da mesa após comer, o respeito pelo espaço do outro, o
silêncio, as gentilezas que fazem o dia mais sem graça parecer uma página de
conto dos irmãos Grimm.
Estou falando na necessidade de prestar atenção nos meus
filhos. De viver um dia depois do outro sem ser uma impostora. De lembrar que
cheiro de filho quando acorda é bom e por isso eu devo acordá-los lentamente. De
saber que a vida é feita de momentos. De saber que tudo passa. Mas, mais do que
tudo, de saber que essas crianças que vêm pra gente cuidar, seja pela barriga ou não, serão
pessoas que andarão com os próprios pés, e escolherão os caminhos delas, não os
caminhos que “alguém tinha imaginado para elas”.
E então, quando tudo parecer estar errado dentro de casa, por
causa de expectativas insanas de progenitores que têm a tendência a serem
impostores, o que fazer? Ser uma santa (ou um santo, claro). Não pegar para si
o que parece não estar funcionando. Não achar que o mundo está próximo do fim
porque nossas fantasias não estão se concretizando. E como santa ou santo, dar
risada e agradecer, porque criar nossos herdeiros é bom. Mesmo sendo duro.
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