as alegrias de dezembro



é engraçado como o mês de dezembro pode virar uma tristeza, em vez de alegria. basta uma falta de atenção e pronto, tá feito o estrago.
os dias ficam mais quentes e delicosos. os filhos entram em férias escolares - e entra em férias escolares o despertador também. uns dias de folga, mesmo que poucos, estão garantidos - afinal, natal e réveillon são festas respeitadas e comemoradas por muitos. as reuniões também fazem parte desses últimos 31 dias do ano: amigos, colegas de trabalho, pessoas que não encontramos durante o ano mas que queremos ver antes de o ano acabar. e, finalmente, os encontros familiares. que podem ser uma alegria, se houver espaço para senti-la.
mas por que será que todas essas coisas podem ser mui facilmente esquecidas? porque olhamos pra fora, e esquecemos de olhar pra dentro. saímos feito loucos de carro pela cidade para comprar. não só presentes, mas lembrancinhas, panetones para os empregados do prédio, caixas de bombons para os professores, o tal do amigo secreto que virou mico secreto de tão odiado. e todos da família, mais as crianças.
e eis que existem algumas pessoas que ficam olhando a roda girar mas não entram nela. essas pessoas NÃO ficam tontas no mês de dezembro, NÃO gastam todo o dinheiro que têm, NÃO falam mal das comemorações, NÃO fazem promessas bestas e impossíveis de ser cumpridas. NÃO reclamam da vida NEM bufam.
a prova disso são os adoráveis bolinhos da foto. ela me ligou para dizer que queria me ver. não perguntou quando eu poderia sair, aonde poderíamos jantar. ela sabe que eu moro com meus dois filhos, e que saídas à noite exigem programação e boa vontade. eu disse que tinha um vinho em casa, e que poderíamos tomar uma sopa. super sem graça, eu pensei depois de fazer a sugestão, mas também super sem estresse.
ela aparece na minha casa com uma sacola de pano pendurada no ombro. "trouxe uns mimos." ela tira de dentro da sacola dois potes. num, bolinhos recheados e cobertos com goiabada. noutro, bolinhos em forma de flor recheados com goiabada e polvilhados com açúcar. ela tinha ido pra cozinha à tarde e tinha feito o lindo presente.
não, ela não é casada. não, ela não tem filhos. não, ela não paga plano de saúde, escola, empregada, motorista, natação, pediatra. não, ela não acorda às 5am. mas e quem disse que pra ser feliz é preciso "fazer menos do que a gente?". ela fez bolinhos com goiabada não porque não tem filhos, mas porque GOSTA de fazer bolinhos com goiabada. como é difícil tirar os pensamentos das estúpidas caixinhas em que os colocamos.
o fim de um ano pode trazer alegria. não porque "ano que vem vai ser diferente", porque ano que vem vai ser igual. sorry, sorry love. mas fico feliz, felicíssima, ao pensar que dá para viver pensando que um dia vem atrás do outro. e ponto. e pensar que um ano pode ser o tempo suficiente para aprendermos a dizer não - e sim também - com doçura e determinação. para aprender a esperar menos e enxergar mais. aprender a dar conta da vida sem sofrer. e a agradecer as coisas que não acontecem - isso também é um presente da vida.

Comentários

  1. dá uma olhadinha nessa foto da época do SBT.
    http://picasaweb.google.com/eduacquarone/SBT?authkey=OJRHgP-rRKY#5057365286292457538
    bj
    helinho

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