'tem mãe que é mega perfeita'

dois monges, Tanzan e Ekido, caminhavam numa estrada enlameada depois de uma forte chuva. perto de uma aldeia, eles encontraram uma moça que estava tendo dificuldade em atravessar a estrada por causa da lama. se ela continuasse, estragaria seu quimono de seda. sem titubear, Tanzan a pegou no colo e a cerregou para o outro lado da estrada.
os monges prosseguiram na sua caminhada em silêncio. cinco horas depois, quando já estavam perto do templo onde passariam a noite, Ekido não conseguiu mais se conter.
- por que você carregou a moça para o outro lado da estrada? - perguntou. - nós, monges, não devemos fazer essas coisas.
- faz horas que coloquei aquela jovem no chão - respondeu Tanzan. - você ainda a está carregando?
(eckhart tolle em "o despertar de uma nova consciência", ed. sextante)
....
eu tinha saído para andar. coisa muito nova na minha vida, sair para andar quando não é super mega cedo. as crianças tinham ido pra casa do pai, e isso tinha sido meio demorado. ficaram esperando na calçada, com a bicicleta, o suporte para carregá-la mais os elásticos extensores, os patins e a patinete. e assim eles anunciaram ao pai, com sucesso, que IRIAM ao parque naquele domingo, depois de muitos e muitos anos de tentativas vãs.
mas estava eu andando nem tão cedo assim, sob um sol belíssimo, quando um grupo de mulheres passa por mim, às gargalhadas, e uma delas diz "tem mãe que é mega perfeita". o comentário parecia não ter conotação negativa nem positiva. elas riam e falavam alegremente, e tive a impressão de que ELAS não se incluíam no grupo dessas mega perfeitas.
achei muito engraçado. fiquei pensando nas coisas que a tal da mega perfeita devia fazer para ser eleita como tal. tentei escutar mais da conversa, mas caminhávamos em direções opostas, e não as escutei mais.
como é besta a gente achar que uns fazem melhor do que a gente. mas elas não falavam isso de forma besta, e isso é encantador.
mas o comentário dessa mulher me fez pensar nas tantas coisas que a gente carrega pela vida, e se cansando à toa, a ponto de nunca sermos mega perfeitos dentro do que é mega perfeito para NÓS mesmos. montes de cargas, de "tenho que", de tarefas, de prazos, de exigências, de sorrisos sem vontade. tenho a impressão de que muitas vezes esquecemos o que é essencial pra gente, e nos perdemos no meio do caminho. vamos inventando tarefas, coisas a comprar, dinheiros a ganhar, e nos perdemos. como a personagem de "com amor... da idade da razão", que chega aos 40 ganhando muito bem e vivendo uma vidinha de merda.
 eu estava achando o máximo sair para andar quase na hora do almoço. e depois também achei o máximo ver um filme sozinha em casa ao meio-dia, e achei o máximo esquentar uma sopa que estava na geladeira. também adorei dormir à tarde e tomar banho não de manhã, mas quando o dia já estava acabando.
parece besta, mas às vezes é tãããão absurdamente difícil fazer as coisas de todos os dias de um jeito diferente. não só pra variar - "variety is the spice of life", disse shakespeare, de acordo com a cultura vasta que o daniel piza tinha -, mas pra carregar menos peso mesmo.
e tenho me esforçado todos os dias, durante todas as horas, em lembrar disso. e fazer o que é essencial e importante para mim. e deixando de lado os pesos inúteis. dá um trabalhão, mas é muito, muito divertido. parece que a cada "coisa" que deixo de lado - mas por que mesmo eu só podia andar e correr antes das 8h??? - eu ganho uma medalha. daquelas que a gente ganhava quando era criança, e levava pra casa cheio de orgulho e felicidade por ter feito "algo legal".




Comentários

  1. Lindo!!!!Tô aqui, fazendo tarefas mega chatas e inúteis, mas que fazem parte de um trabalho que "most of the time" me diverte. Ai,mas tarefas chatas, intermináveis e inúteis ninguém merece! Antes de ir dormir,ganhei teu lindo texto de presente!
    Bj,
    Dani

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  2. ai, Tita, seus textos sempre tão inspiradores... que delícia. muuuitas saudades de vc. beijos, Carol

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  3. queridas,
    que alegria ler essas palavras agora cedo!
    bjs pra vcs.

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