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Mostrando postagens de 2014

perder-se

dizem que devemos todos os dias fazer novos caminhos, ou fazer as coisas de todo dia de um jeito diferente. essas mesmas pessoas defendem que assim nosso cérebro é exercitado. pois eu acho que mais do que o cérebro, a alma é exercitada. e é por isso que não saber onde estamos é bom. hoje fomos andando pra praia e pegamos o caminho - dois quarteirões - errado. seguimos andando e atravessamos uma área verde onde florzinhas ordinárias que crescem no meio do mato nos fizeram parar. eram lindas, delicadas e inéditas pros nossos olhos. depois nos deparamos com flores maiores e igualmente lindas. e de um colorido forte impressionante. a lívia sugeriu que voltássemos mais tarde pelo mesmo caminho para fotografar todas aquelas flores. mas não voltamos, porque o mar estava maravilhoso, o vento estava fresco e fomos ficando na praia. a ideia da delícia de se perder surgiu quando tive de aprender novos caminhos nesses dias de curtas férias em florianópolis. conheci uma praia que não conhecia,

sozinha,

fiz uma pequena escavação na areia fofa, e juntei num bolinho a areia, para que servisse de almofada para eu sentar e meditar. a praia tava ficando cheia, apesar do dia cinza e com muito, muito vento. cheia quer dizer com mais gente do que eu tinha encontrado duas horas antes, quando cheguei na beira do mar para andar até a ponta da praia. fiquei quase com vergonha de meditar num lugar público, mas acabei fechando os olhos e ficando quieta. o corpo parecia balançar suavemente com o vento. mas da cintura pra baixo eu estava sentada e imóvel. eu sempre tenho um pouco de vergonha de fazer algumas coisas em público por poder parecer ridícula. aprendi com a minha mãe que temos de sempre olhar para ver "se os outros estão olhando o que estamos fazendo". mas agora, passados quase 44 anos, estou aprendendo a NÃO olhar para os outros porque afinal de contas a vida deles é deles e a minha é minha. é muito difícil aprender coisas diferentes das que aprendemos desde pequenos. vim pra

o pior e o melhor

tanto tempo sem escrever que fico com medo de não saber mais escrever. ou pior: fico com medo de não voltar a escrever. parece que tem tempos na nossa vida em que olhamos tanto mas tanto pra dentro da gente que fica difícil olhar pra fora. como se só existisse o pra dentro. e esse é o momento. e então, sem sono por conta de um filho que é da pá virada, pensei em como o pior da vida é ter de dar conta sozinha. e como isso também é o melhor. não estou falando de dar conta de algo específico. é um pouco pior. ah ah ah. estou falando de dar conta de tudo. sem perguntar pra ninguém, sem pedir pra ninguém resolver e sem culpar ninguém. e é bem nessa hora, em que fica CLARO que você precisa tomar as rédeas e escolher o caminho a seguir, que parece que não vai dar. se eu fosse contar quanto tempo tenho ficado em silêncio acho que eu bateria alguns monges que vivem isolados. não foi uma escolha minha, foi uma imposição de um dia depois do outro. e assim tem sido. às vezes morro de ódio do

o claustro

"saber ficar satisfeito é ter um tesouro na palma da mão." provérbio tibetano  ... eu estava cortando um pedaço de tofu em quadradinhos, e senti uma alegria muito grande: minha sopa ia ter tofu! aí me dei conta de que quando uma pessoa acha TOFU o ingrediente mais interessante do seu jantar, hello, esta pessoa está em sofrimento. bem, eu estava. era o último jantar do meu jejum, que durou oito dias, contando o dia zero, quando comi somente frutas e verduras. para dar conta, me organizei: faria o jejum na primeira e única semana do ano sem filhos. e a preparação foi longa. em junho, quando a minha médica receitou isso, eu disse pra ela: "nunca". passadas as férias de julho, achei que podia pensar no assunto. e tanto pensei que consenti em fazer a tal dieta detox. além de estar sozinha em casa, organizei minha agenda para que a minha presença física no escritório não fosse necessária. e deu certo. apesar de ter trabalhado muitíssimo, não saí de casa. acordava c

depois do sequestro, pinhão

shit happens. e um dia a merda acontece com você. hoje aconteceu comigo. uma coisa fina, elegante e rápida. enquanto eu estava entrando no carro, vejo um sujeito entrando do outro lado. ele falou mui rapidamente. eu devia seguir as instruções, e ele não ia mostrar a arma para não assustar o bebê. a lívia tem 9 anos. e não percebeu que o malaco era um malaco. olhei pelo espelho retrovisor e vi a carinha dela bem feliz. ela achou que eu estava dando carona para alguém. ponto. malaco ia me acalmando, me indicava o caminho e dizia que se cruzássemos com a polícia eu deveria ficar calma. aliás, ele dizia que eu devia ficar calma, e eu respondia "obrigada por me acalmar". fofo. e patológico. ah, e qualquer coisa o malaco era "o meu filho", me instruiu o próprio. ladeiras e mais ladeiras abaixo, chegamos. descemos do carro e fomos andando num belo campo de futebol. o malaco mandou que esperássemos. o malaco chefe estava chegando. quando chegou, mandou eu

a fotossíntese

(o texto foi escrito dois meses atrás. antes das minhas longas férias de quase 40 dias. antes de a minha mãe ir para o céu. e antes de eu saber que eu tenho um milhão de amigos com quem eu posso contar nos dias mais nublados, e nas noites mais escuras, quando não enxergo nenhuma estrela no céu) o dia tava lindo. e a dor era tanta que eu não conseguia andar sem senti-la. interrompi minha caminhada e fui pra casa. tinha de trabalhar, assinar um documento no cartório, comprar frutas. e enquanto ia fazendo todas as mil coisas a fazer, lembrei que há muitos e muitos dias vinha adiando minha ida ao incrível dr. kong. liguei, mas ninguém atendeu. um frio percorreu a minha espinha, e eu fiquei morrendo de medo que ele estivesse na china passando longas férias ou, pior, que não estivesse mais atendendo. e eu teria mais uma dor, a do coração, para juntar-se às tantas outras dores que eu tenho hospedado em partes diversas de mim. ia fazendo as coisas devagar, porque as costas doíam e o corpo e

enfim, lenta

meu deus. finalmente consegui. com muito esforço, é verdade, porque tenho a impressão de que na vida tudo custa um pouco de esforço - seja interno, da alma, seja externo, do corpo. mas um pouco. eu estava no supermercado fazendo compras para receber quatro vietnamitas na minha casa por uma tarde. já tinha pensado no que seria feito para o almoço, para o lanche da tarde e para o jantar. mas acabei deixando para comprar algumas coisas na última hora. tão última que quando olhei no relógio faltavam dez minutos para eu estar no ponto de encontro onde pegaria as três crianças e a/o líder do grupo, que tinham vindo à bananalândia para um acampamento do CISV. respirei fundo e falei para mim mesma: "calma, nega". terminei as compras, paguei e saí do supermercado tentando fazer cara de tá tudo bem. não parei na feira. cheguei em casa falando alto, nalva cheguei e já estou saindo porque estou atrasada. no carro, no meio do caminho, a lucy, responsável pela "entrega" do gru

ogrices

a gente não se fala regularmente. mas ela é a única pessoa da família do pai dos meus filhos com quem mantenho contato. manter contato seria relegar nossos encontros a meras formalidades. e isso seria mentira. mas temos em comum uma sogra, já que ela foi casada com um dos irmãos do meu ex-marido. mais de uma década se passou, e sempre temos o telefone da outra para mui esporádicos telefonemas e mui alegres encontros. a lana me ligou um ou dois dias depois do dia das mães. demos risada ao telefone. ela ligava para dizer que a casa nova já tem telefone, e queria me passar o número. e conversando sobre os filhos, viagens e tals ela me conta que ficou muito brava com o pedro, que não tinha dado nada de presente de dia das mães para ela. a enquadrada foi curta e grossa: ela disse a ele que ele devia dar conta de dar um presente, um botão de rosa que fosse, em algumas datas especiais para ela, como aniversário e dia das mães. podia guardar algum dinheiro pra isso, ou comprar algo barato,

por que você veio aqui?

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o grupo tinha umas dez pessoas. e cada um tinha de dizer por que estava ali. o que falávamos ali não devia sair daquela sala. por isso só vou escrever o que eu disse. era um curso de meditação, e havia principiantes e iniciados. eu respondi que estava ali porque queria andar e fazer tudo mais devagar. queria me tornar uma pessoa mais lenta. ninguém disse isso. cada um tinha um motivo, e me pareceu que cada um falou de coisas muito íntimas. sobre a minha intenção de mudar a velocidade, isso não me parece íntimo. nem profundo. ao contrário. me parece bem raso, como um pires. o curso terminou já faz uns meses, e as oito ou nove aulas que tivemos mudaram a minha vida. já escrevi sobre isso, e tenho falado sobre isso à exaustão. na prática, tudo segue igual, mas eu enxergo tudo diferente. e quando a gente começa a ter umas ideias diferentes das que tínhamos, parece que o universo se encarrega de nos mostrar outras coisas, e assim, como uma bola de neve que dizem que vai aumentando confo

e o oscar vai para...

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cheguei em casa um pouco depois das 7pm. minha filha tomava banho, meu filho tinha o i-pad no colo. minha empregada querida tinha a mesma cara de sempre - e por isso os baianos estão à frente de toda a população ocidental. minha barriga doía. era uma dor estranha, como se eu estivesse para parir a qualquer momento. eu vim dirigindo do escritório para casa respirando para sentir de onde vinha essa sensação estranhíssima. a dor tomava conta do abdômen e da região onde eu tenho a cicatriz da cesárea. tchau, nalva. lívia, coloca o pijama, vai jantar e já pra cama! joão, quantas lições você fez? ... pausa para meditação. ... é uma piada. eu queria jantar e dormir. mas meu filho tinha lições. muitas. ele trocou de escola este ano. ele e o pai escolheram uma escola "normal". coloco com aspas porque o joão estudava numa escola de pedagogia waldorf, e todos os dias dizia que não gostava da escola. foi um teste de aceitação. ou como diz o mestre, "você foi traída"

cansa

quebrei meu recorde histórico de não escrever - e não me importar com isso - neste blog. tem vez que a vida parece nos deixar mais ocupados, e aí nos concentramos no que é essencial. e eu tenho me concentrado nas tarefas mudanas de começo de ano. filhos na escola, lição dos filhos, horários da natação e do piano e do inglês e da terapia dos filhos. diz uma das minhas mestras que deus tá o fardo que cada um consegue carregar. eu acredito nisso desde a primeira vez que ela me disse isso, uns anos atrás, mas eu sempre fico com um pouco de dúvida. por que às vezes o fardo parece tão pesado que a gente tem certeza de que vai cair de boca no chão? aí vem a falta de ar - uma visita que não é bem-vinda mas que se nega a ir embora -, a azia, a insônia. e a tristeza, que me presenteia com a certeza de que estou andando pra frente, me equilibrando com esforço e tropeçando dia sim, outro também. ... ontem fiquei pensando no meu medo. saí de casa tarde da noite para os meus pacatos parâmetros.

se eu fosse mãe de quatro

deve ser uma obsessão com comprovações. mas este fim de semana eu comprovei que é mais fácil ser mãe de quatro do que de dois. a ideia me persegue há anos. acho que desde que tive o meu primeiro namorado, aos 14, com quem fazia planos edificantes de ter cinco filhos e tals. o namoro terminou sem filhos, um ano depois, e eu me casei duas vezes, tive dois filhos com o segundo marido mas depois faltou gente pra dar conta do aumento da família. especificamente faltou um marido. mas este fim de semana a vida me deu de presente a experiência, voluntária, de ficar com quatro crianças no meu pequeno apartamento no meio de um bairro barulhento em são paulo. fredrik e leo chegaram sexta no fim do dia, e partirão amanhã, segunda-feira, bem cedinho. eles têm a idade do joão. fredrik é norueguês e leo, finlandês. eles se entendem em inglês, na bicicleta do parque, no sabor da pizza, na casquinha do mc donald's, no wii e no carro de controle remoto que o joão ganhou de natal. as coisas começ

o bolo, a alegria, a tristeza

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ser hóspede na casa dos pais da gente é uma tarefa árdua. você se sente quase em casa, e isso é um problema. quando você é hóspede na casa de um amigo, não há dúvidas: você se comporta como tal e ponto. mas na casa dos velhos o limite entre a casa do outro e eu é tênue. você faz uma coisa achando que está arrasando, afinal se sente mui à vontade. mas não arrasou coisíssima nenhuma. além da hospedagem, tem o prazo de validade da visita. que não sei quem disse que é o mesmo do peixe fresco na geladeira: depois de dois dias começa a feder. mas era uma data festiva - natal e ano novo -, tinha um ano que eu não visitava meus pais, as crianças estavam (e seguem!) de férias e minha mãe ia passar por uma pequena cirurgia. eu ia feliz como uma criança gulosa que come sem pensar na dor de barriga. em todos os sentidos. passei parte do dia 24 de dezembro na cozinha preparando comidinhas para a ceia. e fiz o mesmo no dia 31: fiquei preparando um bacalhau, longe da piscina. mas tudo que é demai

melhores frases - parte II

peço ao meu filho desligar a trolha do ipad que ele ganhou de natal. digo que não quero que ele se torne uma criatura retardada. ao que escuto: "não serei um retardado. serei um gamer." ... ligamos o ar condicionado no enorme quarto onde estamos acomodados na casa dos avós das crianças, mas, com o calor surreal portoalegrense, e com o tamanho do quarto, demorava um pouco pra refrescar. digo que estou sentindo o ar mais fresco, e minha filha fala lá do canto onde estava a cama dela: "aí tá bom, mas eu tô no rio de janeiro." ... "tu podes fazer eu ficar quieta?" minha tia erica estava, havia horas, perguntando pra irmã dela, minha dinda, o que ela poderia fazer em pró da irmã. tudo porque minha dinda aplica jin shin jiutsu na família, mas a tia erica, que sabe que fala demais e quase ininterruptamente, ainda não se submeteu às maravilhas da técnica. e, na cabeça dela, o jin shin jiutsu é capaz de q-u-a-l-q-u-e-r coisa.