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Mostrando postagens de 2017

o ano que acaba e a minha promessa de NÃO viajar

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a chuva começou devagar. eu estava sentada não muito perto da janela, e não conseguia ver se caíam pingos ou se eu estava imaginando que estava chovendo. mas em poucos minutos a chuva começou a cair com força. dava pra ver a cortina de água que se formava no ar e que agora eu podia enxergar perfeitamente de onde estava. eu estava meditando. e chorando. andamos mais ou menos 2.500 km nos últimos dias. foi um pedido dos meus filhos: passar o natal com o avô que mora em porto alegre e com a prima que morava em florianópolis, mas faz duas semanas mudou-se para porto alegre. eu sempre tenho vontade de ficar em casa no natal. é nessa época que a cinza e barulhenta são paulo fica calma, serena e silenciosa. é o melhor de são paulo. mas meus filhos nunca gostam da minha ideia. e todo ano pedem para passar o natal com o pedaço da família que mora em porto alegre. eu fui e voltei bem concentrada. não queria passar a semana feito um papagaio não criativo dizendo "eu não queria vir pra cá

Como sobreviver ao mês de dezembro em 17 lições

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Eu moro num bairro muito movimentado de São Paulo. Não é o centro da cidade, mas é como se fosse. De segunda a sexta, pessoas andam com seus crachás pendurados no pescoço, normalmente em grupos que variam de tamanho – de 2 a 10 pessoas -, em passos rápidos, com caras compenetradas. Ocupam a calçada animadamente, e andar pela vizinhança perto da hora do almoço é quase uma brincadeira de ultrapassagem e redução de marcha e aceleração e ops, não dá pra passar de novo. Caminhões param em todos os lugares onde é proibido parar e estacionar para descarregar gelo, engradados de cerveja, caixas com hambúrgueres congelados e caixotes de madeira com verduras. Mas nos fins de semana a vizinhança se transforma. Pessoas de todas as idades, cores e felicidades andam pelas calçadas, de mãos dadas ou empurrando carrinhos de bebê ou segurando coleiras ou discutindo ou dando risada. O bairro é cheio, bombado, metido a besta, feliz. Mas nesses dias de dezembro, o bairro fica mais cheio, mais bombado,

sobre a difícil arte do deixar ir

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o glamour* não anda sempre ao lado da gente. e assim há os dias coloridos, ensolarados, mas há também os dias nublados, frios e com neblina. não estou falando das condições meteorológicas, mas de como nos sentimos. o sol indo dormir  aí tem as fases, que são feitas de vários dias. as fases alegres, nítidas, leves, e as fases densas, cinzas, que não têm nenhuma alegria e nenhum glamour. assim é que é. não só com desempregados, mas com todo mundo. como eu estou desempregada, tenho a impressão de que os meus dias cinzas são mais escuros que os dias cinzas dos outros. o que é uma enorme bobagem. o refrão belíssimo de "divino maravilhoso" grudou na minha cabeça dia desses, e eu ia cantando "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte". eu não lembrava de nenhuma outra palavra da música, só essas. às vezes parece que a força acabou. tipo quando termina a gasolina do carro no meio da estrada, e você está andando feliz da vida a 100km/h, 120

quase 12 anos atrás: por que a simplicidade é complicada?

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um dia depois de escrever sobre a minha vida com menos coisas e mais alegrias , encontro o texto que segue nos arquivos do meu computador. escrevi isso quase 12 anos atrás, no dia 31 de março de 2006. eu tinha acabo de me separar. meu filho faria 4 anos dali a 10 dias. e minha filha ia fazer 1 ano dali a 15 dias. ... Quando resolvi me separar, para meu espanto, eu não tinha nenhum papelzinho com prós e contras, não era corna, não estava apaixonada. Foi simples. A decisão estava tomada e eu tinha de segui-la. Porque sei que é a decisão mais lúcida da minha vida. E ela, a decisão, apareceu para mim. Não foi milagre, não tive nenhuma visão. Simplesmente foi assim. Agora só fico pensando em como casei com uma pessoa tão distante. Mas foi muito amor, tanto amor que nasceram dois filhos. Fortes, maravilhosos, e que são minhas estrelas, hoje mais do que nunca. Tava pensando que a dor de uma separação, mesmo desejada, é tanta, que tenho de escrever pra aguentar. Mas quem vai querer

nunca me senti tão rica

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eu estou há dias pensando nisso. pensando em escrever sobre a minha riqueza. estou dura de marré marré marré. desempregada desde março. fazendo um trabalho aqui, outro ali, mas nada que pague todas as contas da minha pequena família. e nesses meses de busca por um emprego, por frilas, por equilíbrio, por alegria para lidar com a vida familiar, eu tenho me sentido muito rica. parece irônico, e eu sei disso.  cresci numa família endinheirada. hoje entendo mais do que entendia quando era criança. para as crianças, a menos que você seja criada por monstros, o dinheiro nunca é a parte mais importante da vida. e eu sabia que morava numa casa grande, que tinha um guarda noturno que nenhum amigo tinha e que podia ser sequestrada, segundo a minha mãe. mas eu não tinha noção da realidade como ela era.  hoje eu tenho.  minha família endinheirada se foi. casei duas vezes e nunca herdei nada dos casamentos. sempre achei uma barbaridade uma mulher com dois braços, duas pernas e um cérebro receber

Só sendo uma santa

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Parte do cansaço de criar filhos vem da minha loucura. Após anos jurando que não serei como meus pais, dia desses, conversando com o meu filho, escutei sair da MINHA boca que eu, na idade dele, “corria, fazia ginástica, dançava num grupo da escola” e não sei o quê mais. Assim que terminei a frase, morri de vergonha. O que é que os meus filhos têm a ver com o que eu fazia ou não fazia na idade deles? E o que eles têm a ver com o que eu quero que eles façam? Toda a teoria de “boas práticas” no lar escoa pelo ralo. E eu fico pensando por que é tão tentador repetir as frases bestas que eu ouvia quando eu era criança e que eu achava tão abomináveis. Falar que aceitamos os filhos como são, uns CDFs, outros folgados, uns comilões, outros anêmicos, uns extrovertidos, outros quietinhos, uns fortes e outros nem tanto, é dureza. Aí vem mais dureza: depois de aceitá-los como são, ver e perceber que eles não pensam como nós, não agem como nós, não vivem como nós. Socorro. E é s

Coisas deleitáveis

(o texto abaixo foi escrito depois que eu li uma crônica homônima do Paulo Mendes Campos no livro "As cem melhores crônicas brasileiras". depois de escrever as "coisas abomináveis" , agora é a vez da lista das "coisas deleitáveis". é título foi copiado. uma homenagem, ainda que singela, a um texto sensacional) Estrada vazia; pinhão cozido vendido na estrada que liga o Paraná aos pampas; andar na mata com um bom guia; canivete suíço; festa com boa música; gente inteligente; gente divertida; criança brincando; sapo coaxando à noite; banho de mar quando o sol já se pôs; ver o sol nascer no mar; terminar uma longa caminhada; restaurante de beira de estrada limpo; armário com pouca roupa; sorvete com pouco açúcar; a cama da gente; o sol entrando pela janela; a lua iluminando a mata; ver um baiano abrir um coco pra você; tomar chimarrão na praia; doce de leite argentino; viajar de carro pelo Uruguai; farol em qualquer praia deserta; frango com chocolate e p

Coisas abomináveis

(o texto abaixo, título inclusive, foi escrito depois que eu li uma crônica homônima do Paulo Mendes Campos no livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, ed. Objetiva. Se você nunca leu o texto em questão, sugiro que o leia. É absolutamente maravilhoso. A seguir, a minha própria lista de coisas abomináveis) Gente que se acha importante; gente formal; óculos sujos; cheiro de naftalina; cabelo alisado; umbigo de plástica; rua escura; calçada esburacada; calçada cheia de gente; café doce; gosto de adoçante dietético; meia apertada; meia-calça pequena; sapato desconfortável; roupa apertada; tecido sintético; roupa quente em dia de versão;  lábio ressecado; esquecer as chaves; armário bagunçado; luz fria; lápis preto com grafite que não escreve direito; perder a caneta; shopping em qualquer lugar; ouriço do mar dominando a areia onde você está andando; queimadura de mãe d’água; conta atrasada; gente que não larga o celular; dor nas costas; crianças mandando nos pais; motorista que

a minha longa história com o dr. kong

isso foi muitos anos atrás. talvez uns 20. ou quase isso. eu morava sozinha. depois de me separar, tinha morado um tempo sozinha, outro tempo em uma casa no meio do mato com uma amiga, e finalmente estava de volta à cidade cinza, também conhecida como são paulo. estava sozinha e feliz. eis que um dia acordo e não consigo me mexer. quando isso acontece pela primeira vez, e nessa primeira vez você mora sozinho e é jovem, é totalmente desesperador. eu comecei a chorar. não lembro se chorei por poucos ou muitos minutos, mas lembro que saí da cama engatinhando. devagar cheguei ao banheiro, tomei banho e me aprontei, acho que desesperada, para ir pro trabalho. nessa época eu trabalhava na Gazeta Mercantil, que já tinha sido um bom jornal, mas já estava começando a não pagar os salários no dia em que o pagamento deveria ter feito - um ou dois anos depois o jornal fechou. a redação ficava na zona sul de são paulo, um caminho longo, mas rápido desde o meu pequeno apartamento, que ficava em

nossa vida sem a nalva - parte II

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eu ficava muito abismada com a reação das pessoas nos estados unidos quando eu levava alguma comida preparada por mim. ou quando cozinhava em casa e amigos vinham e reagiam do mesmo jeito que eu não conseguia entender. ooooooooh, is it homemade? - era mais ou menos sempre isso. sim, era feito em casa. ooooooooh! bolo de tapioca que nunca fiz nos EUA, mas aprendi a fazer dia desses anos e mais anos se passaram. especificamente, uma década e meia. e hoje eu entendo perfeitamente por que eles babavam de alegria e prazer ao comer algo que eu ou meu então marido tínhamos feito. e podia ser qualquer coisa. um bolo de maçã. ooooooooooh! um frango no forno com shoyu. oooooooh! um brigadeiro. ooooooooooooooooooooooooh! faz um ano que vivemos sem a santa nalva. para quem não sabe, a nalva trabalhou na minha casa desde que a minha filha era bebê. não sou boa com datas - ou não acho importante lembrar de datas, na verdade. mas a nalva começou a trabalhar na minha casa uns dias antes de eu

Inéditos - parte 2

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(este texto foi escrito em janeiro, numa folha de papel. É a sequência do post Inéditos , escrito dois dias antes deste. Enjoy.) Viajar com crianças é uma aventura. Elas são mais flexíveis que a maioria dos adultos. Mais doces também. E mais alegres. Desta vez, estou com três. Pela idade, são duas crianças e um adolescente. Há pouco olhamos o velocímetro do carro, e desde que saímos de casa já rodamos quase 1.800 km (1.790, acho). Chegamos à última parada das férias, uma praia ainda tranquila. A casa fica no pé de um morro, e não escutamos a música da casa vizinha. voltando das compras na praia  A moça do supermercado perguntou se era peixe o que eu queria comprar na peixaria, quando pedi informações sobre a mais próxima. O rapaz que acomodava as compras nas sacolas riu, e eu disse que queria comprar costela pra um churrasco. E então ela, simpática, disse que se eu quisesse camarão, o pai dela vendia. Era só seguir a estrada, e passando a bifurcação, entrar na 1

sobre o dia em que fui ao fórum falar a verdade e nada mais que a verdade

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"o que você faz depois de uma audiência com o seu ex-marido?", ela me perguntou. sugeri que comprasse um vinho. e que celebrasse, mesmo com tristeza e estupefação, depois que os meninos estivessem dormindo. os meninos chegarão tarde hoje. estão na casa do pai. que bom. ela poderá celebrar antes de os meninos chegarem e depois que eles dormirem. mas celebrar o que mesmo? ... ... éramos três na sala de espera do fórum. sim, ela conseguiu que três amigas fossem até lá para responder às perguntas do juiz. audiências de conciliação não são um ambiente simpático. e assim foi. a advogada nos advertiu: juízes nem sempre chamam as testemunhas. não estávamos incomodadas com isso. sendo chamadas ou não, tínhamos ido lá e isso era o que importava. somente duas foram chamadas. uma de cada vez. tenso e chato. você quer ajudar, você conhece o ex-casal. mas estamos falando de dinheiro e dinheiro é um tema sombrio e sua sombra é gigantesca. ... meu sogro querido tinha horror de