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Mostrando postagens de julho, 2018

os cabelos vermelhos e a família feliz de josé

josé entrou no vagão acompanhado do pai, da mãe e dos dois irmãos mais velhos. como eles eram muitos, e estavam bem na minha frente, não pude deixar de notar. ele tinha os cabelos muito crespos e ruivos. sentou-se num banco individual, e em segundos estava de pé sobre o banco. logo estava sentado novamente. o pai, um homem muito magro e com a cara enrugada, possivelmente com menos idade do que parecia, ficou em pé, ao lado do banco onde o filho caçula estava sentado. mãe e filha sentaram-se nos dois bancos próximos ao de josé, e o filho do meio sentou-se sozinho e de costas para toda a família. eu olhei para o pequeno ruivo e ele abriu um sorriso enorme. os dentes da frente não eram brancos, mas de onde eu estava não dava para ver se eram dentes escurecidos por alguma batida ou se eram dentes podres. o sorriso do menino era maravilhoso. assim que as portas do vagão fecharam, um gorducho que estava de pé anuncia que faz parte de uma organização, eu não consigo entender tudo o que el

eu vou ser feliz. beijo, te amo

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ela sempre diz 'te amo' quando peço algo que ela não quer fazer. eu tinha voltado da minha caminhada, e ela tinha acabado de acordar e estava tomando café da manhã quando eu perguntei "vamos ao supermercado?" ela respondeu "vou ser feliz. beijo, te amo" e saiu da cozinha, me deixando sozinha. comecei a rir. como ficar brava com uma pessoa que responde "eu vou ser feliz"? eu sinto muito tédio. ficar sem trabalho me provoca aflições que começam no estômago, sobem pra cabeça (onde rola o blá blá blá destruidor de autoestima) e toma conta do meu corpo inteiro. e então nesses dias em que acordo chafurdando na lama do tédio vou andar - mesmo que na velocidade de uma minhoca cansada. ando feliz com o sol esquentando a minha pele branquela, mas me sentindo mais um saco de batatas bem pesado do que uma pessoa. às vezes tenho a impressão de que uma nuvem preta de cansaço e desânimo veio morar em cima da minha cabeça e aqui ficará para todo o sempre. a cois

ninguém mandou ter filho

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filhos que moram só com um adulto costumam ter uma vida um pouco mais exposta à, digamos, vida como ela é. eu sou o único adulto na minha casa. até dois anos atrás, éramos dois: a santa Nalva, que trabalhava de segunda a sexta no meu pequeno apartamento, e eu. então eu tinha, ALÉM DOS MEUS FILHOS, uma interlocutora adulta. eu entrava na cozinha de manhã, antes de sair para o trabalho, e quem tinha de me dizer se a roupa que eu estava usando estava decente? quem escutava meu blá blá blá sobre os telefonemas que eu recebia da minha mãe, que adorava contar muitas coisas quando me ligava, mas sempre esquecia de perguntar como eu estava? quem sabia de todas as minhas chateações no trabalho, na escola das crianças? a santa nalva. mas os filhos crescem, e as santas nalvas vão embora. e então, por mais que eu me esforce, e eu me esforço muiiiiiiito, meus filhos costumam ser meus ÚNICOS INTERLOCUTORES em alguns, ou melhor, vários dias. é um pouco constrangedor admitir isso e escrever sobre o