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Mostrando postagens de setembro, 2017

Coisas abomináveis

(o texto abaixo, título inclusive, foi escrito depois que eu li uma crônica homônima do Paulo Mendes Campos no livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, ed. Objetiva. Se você nunca leu o texto em questão, sugiro que o leia. É absolutamente maravilhoso. A seguir, a minha própria lista de coisas abomináveis) Gente que se acha importante; gente formal; óculos sujos; cheiro de naftalina; cabelo alisado; umbigo de plástica; rua escura; calçada esburacada; calçada cheia de gente; café doce; gosto de adoçante dietético; meia apertada; meia-calça pequena; sapato desconfortável; roupa apertada; tecido sintético; roupa quente em dia de versão;  lábio ressecado; esquecer as chaves; armário bagunçado; luz fria; lápis preto com grafite que não escreve direito; perder a caneta; shopping em qualquer lugar; ouriço do mar dominando a areia onde você está andando; queimadura de mãe d’água; conta atrasada; gente que não larga o celular; dor nas costas; crianças mandando nos pais; motorista que

a minha longa história com o dr. kong

isso foi muitos anos atrás. talvez uns 20. ou quase isso. eu morava sozinha. depois de me separar, tinha morado um tempo sozinha, outro tempo em uma casa no meio do mato com uma amiga, e finalmente estava de volta à cidade cinza, também conhecida como são paulo. estava sozinha e feliz. eis que um dia acordo e não consigo me mexer. quando isso acontece pela primeira vez, e nessa primeira vez você mora sozinho e é jovem, é totalmente desesperador. eu comecei a chorar. não lembro se chorei por poucos ou muitos minutos, mas lembro que saí da cama engatinhando. devagar cheguei ao banheiro, tomei banho e me aprontei, acho que desesperada, para ir pro trabalho. nessa época eu trabalhava na Gazeta Mercantil, que já tinha sido um bom jornal, mas já estava começando a não pagar os salários no dia em que o pagamento deveria ter feito - um ou dois anos depois o jornal fechou. a redação ficava na zona sul de são paulo, um caminho longo, mas rápido desde o meu pequeno apartamento, que ficava em

nossa vida sem a nalva - parte II

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eu ficava muito abismada com a reação das pessoas nos estados unidos quando eu levava alguma comida preparada por mim. ou quando cozinhava em casa e amigos vinham e reagiam do mesmo jeito que eu não conseguia entender. ooooooooh, is it homemade? - era mais ou menos sempre isso. sim, era feito em casa. ooooooooh! bolo de tapioca que nunca fiz nos EUA, mas aprendi a fazer dia desses anos e mais anos se passaram. especificamente, uma década e meia. e hoje eu entendo perfeitamente por que eles babavam de alegria e prazer ao comer algo que eu ou meu então marido tínhamos feito. e podia ser qualquer coisa. um bolo de maçã. ooooooooooh! um frango no forno com shoyu. oooooooh! um brigadeiro. ooooooooooooooooooooooooh! faz um ano que vivemos sem a santa nalva. para quem não sabe, a nalva trabalhou na minha casa desde que a minha filha era bebê. não sou boa com datas - ou não acho importante lembrar de datas, na verdade. mas a nalva começou a trabalhar na minha casa uns dias antes de eu

Inéditos - parte 2

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(este texto foi escrito em janeiro, numa folha de papel. É a sequência do post Inéditos , escrito dois dias antes deste. Enjoy.) Viajar com crianças é uma aventura. Elas são mais flexíveis que a maioria dos adultos. Mais doces também. E mais alegres. Desta vez, estou com três. Pela idade, são duas crianças e um adolescente. Há pouco olhamos o velocímetro do carro, e desde que saímos de casa já rodamos quase 1.800 km (1.790, acho). Chegamos à última parada das férias, uma praia ainda tranquila. A casa fica no pé de um morro, e não escutamos a música da casa vizinha. voltando das compras na praia  A moça do supermercado perguntou se era peixe o que eu queria comprar na peixaria, quando pedi informações sobre a mais próxima. O rapaz que acomodava as compras nas sacolas riu, e eu disse que queria comprar costela pra um churrasco. E então ela, simpática, disse que se eu quisesse camarão, o pai dela vendia. Era só seguir a estrada, e passando a bifurcação, entrar na 1