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Mostrando postagens de 2019

os dias nada divertidos passados ora na cama, ora no sofá

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nós éramos três. morávamos na última casa da rua, que era uma rua sem saída. antes da reforma, a casa era pequena e ocupava metade do terreno. a outra metade era ocupada pelo jardim. brincávamos muito. tanto em casa e no quintal quanto na rua. naquela época os pais eram corajosos e deixavam os filhos na rua até a noite chegar, hora em que as crianças voltavam pra casa contra a sua vontade para tomar banho, jantar e dormir. nós três tentávamos brincar juntos, mas era difícil. meu irmão, dois anos mais velho, tinha mais energia que nós duas. minha irmã, dois anos mais jovem do que eu, aceitava brincar, mas não lembro da nossa interação. e eu era uma chata.  brincávamos de playmobil. e para horror do meu irmão, a minha brincadeira era sempre, sempre a mesma. eu escolhia um boneco homem e um boneco mulher, que formavam um casal. eu escolhia peças para uma pequena casa e cerca, e montava a casa deles, cercada. lembro de às vezes escolher um guarda que cuidava da casa deles. essa era a min

pode parar

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"diz-se que tudo que procuramos também está à nossa procura; que, se ficarmos bem quietos, o que procuramos nos encontrará." eu já conhecia a frase, mas me deparei com ela novamente ontem, num livro que eu acabei de ler e recomecei, pra ir entendendo o que eu vou entender em uma vida inteira de leitura (a propósito, o livro é "mulheres que correm com os lobos", uma enxurrada de conhecimento acerca do feminino que toda mulher e todo homem deveriam ler algumas vezes para que cheguemos perto de algo que está muito, muito distante da maioria de nós). e agora, deitada no sofá, de banho tomado, com um lenço de seda ao redor do pescoço para aquecer uma garganta dolorida e suando como se tivesse voltado de uma corrida de uma hora, a frase ficou fazendo pim pim pim na minha cabeça. eu adoeci. e tenho a impressão de que esta é a doença de dezembro. o ano vai acabando, a minha exaustão vai subindo e, sabiamente, meu corpo dá uma desacelerada. fico doente pra me curar da min

um ano sem comprar: eu consegui!

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ele é muito inteligente, e sempre me diz coisas que eu jamais imaginei. abri meu armário para mostrar a ele, que tinha ficado uma semana fora, a incrível organização. e suspirei, "mas passado um ano, meu armário segue cheio". "as coisas acabam menos quando você não compra nada", me disse. "e acabam mais quando você compra." uau. era isso. a conversa aconteceu umas três semanas atrás, quando eu estava perto de atingir a minha ousada meta de passar um ano sem comprar roupas (nem sapatos ou acessórios). parabéns, eu digo pra mim mesma. eu completei meu sabático. que alívio, que alegria, que liberdade. eu mando na minha carteira. eu não compro só porque está em promoção. eu preciso de muito pouco. um ano sem comprar não é pobreza, é fartura. porque só se compra o necessário. e faz você se dar conta do que é realmente necessário. e o necessário, desculpa desapontar nosso consumista interior, é muito, mas muito pouco. eu fui me livrando de tudo o que não er

apreciar ficar só é uma dádiva

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acordei e olhei pelas frestas da porta do quarto, que estava fechada. vi que a luz do dia ainda era fraca. e eu estava certa. depois de anotar um sonho um pouco confuso, olhei no relógio do celular. eram 6h30. não sabia se hoje faria sol ou se seria um dia nublado. só sabia que seria um dia fresco como ontem. em que não usar meias pode ser um ato de coragem, mas usá-las pode dar calor. ao abrir as janelas enxerguei o céu azul. fugi para o parque. queria deixar meus pensamentos de lado, em casa, e vir sozinha ao parque tirar o mofo do corpo, dos meus órgãos, do meu olhar e da minha alma. mas meus pensamentos, teimosos, vieram comigo. a cidade virou uma cidade-fantasma. um domingo pós feriado na sexta é sempre uma alegria nesta cidade tão grande e tão cinza. seus moradores fogem rumo ao interior, ao mar ou às montanhas. eu fujo em direção a mim mesma. enquanto o sol esquenta o meu corpo, olho ao redor. aviões passam quase sobre a minha cabeça, quero-queros voam e cantam e algumas pes

o que aprendi em um ano sem comprar roupas

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existem pessoas que ficam obcecadas com alguns temas. e eu fiquei com essa história do meu sabático de compra de roupas. não, não faz um ano. ainda faltam 24 dias pro aniversário. mas eu já aprendi um tanto e como as lições são libertadoras, eu resolvi compartilhá-las. claro que por vezes penso 'meu deus, será que uma pessoa não tem mais nada pra fazer na vida pra ficar obcecada com o fato de não comprar roupas?' mas pensando bem meus interlocutores costumam mostrar um certo interesse quando abro a minha boca pra discorrer sobre o tema, sobre os meus achados e tals. sim, eu pensei, na minha cachola tão criativa, que este ano sabático seria transformador. que eu me tornaria outra pessoa. ah ah ah. na verdade em vários momentos eu senti tédio. mas que falta de insights!, que falta de emoções arrebatadoras!, que falta de sensações do tipo u-a-u! vida que segue. e vamos às lições, que nada têm de u-a-u. 1. ansiedade a minha musa inspiradora, Lucy Shea , disse há muito que qua

rica, mesmo sem um tostão

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"não importa o quanto eu tenho, eu sempre me sinto rica." a frase eu peguei emprestada. de uma mulher sábia. e belíssima. a vida é bem simples: ela nos mostra o que precisamos ver/enfrentar/ultrapassar para aprender. e isso fica bem evidente quando você escuta uma frase e pensa uau, vou pegar emprestadas essas palavras sábias e vou colá-las no meu coração (sim, porque nos lembramos não do que está na mente, mas do que está no coração. uma pena as escolas estarem tão distantes disso). eu tenho passado por uma fase financeira instável. já faz uns anos. e, claro, vou melhorando aqui e ali. mas ainda é uma fase instável. depois de desistir de brigar por pensão de alimentos de filhos + de a transportadora que o meu pai tinha ir à falência + de ficar desempregada, a vida mostrou pra mim uma realidade que eu desconhecia. em português claro, "te vira, meu bem". eu sei que eu sou uma pessoa com muitos privilégios neste mundo desigual e por isso só escutei o "te vira

perdi os meus óculos (e achei a minha paciência)

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deve significar algo. todas as coisas que acontecem têm um significado. saímos para comprar um par de tênis. ele não tem tênis para correr e combinamos que no sábado iríamos resolver isso. eu estava deitada no sofá lendo quando ele apareceu na sala e disse que estava pronto. escovei os dentes, tomei muita água e saímos. o dia estava ensolarado e quente depois de uma semana fria e chuvosa. andamos, não encontramos nenhum tênis que o agradasse, tomamos o sorvete mais doce da minha vida e acabamos com as muitas moedas que tínhamos dando para quem nos pedia. quando cheguei em casa fiquei feliz de tirar os sapatos e sentir o chão de madeira debaixo dos meus pés. fui procurar os meus óculos. nada. a tela do meu computador ficou listrada. era um dia cheio de acontecimentos. a cidade cinza ficou branca por uma semana. depois, o chão foi tomado pelas flores dos ipês  no dia seguinte saí para andar. e pensei ah, que ótimo, finalmente irei a um oftalmologista e farei uns óculos de acor

o bebê vai nascer - 9 meses sem fazer compras

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o bebê vai nascer. no dia 10 completam-se 9 meses da minha aventura, meu sabático de compras. o tempo de uma gestação. e assim como a ansiedade que vai aumentando conforme se aproxima a hora do nascimento do filho, com a barriga crescendo cada vez mais e o peso também, comecei a ficar com vontade de comprar (ansiedade, alguém?). a aventura é muito mais interna do que externa. não comprar roupas não quer dizer nada. você simplesmente deleta emails com promoções das lojas que você gosta. e você entra e sai de lojas sem se incomodar - tipo o amigo que senta no bar e pede uma coca, enquanto todo mundo cai de boca no chopp ou na caipirinha. o cara da coca não tá nem aí pro que os outros estão bebendo, não olha pro garçom. também não gasta uma grana, nem fica bêbado. e isso é um pouco frustrante. eu imaginava que passar um ano sem ir às compras fosse uma aventura e tanto, algo que renderia inúmeros textos, muitos insights , muitos comichões em diferentes partes do corpo. mas não. quase to

por que NÃO fazer tudo sempre igual

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chegamos ensopados. três dias atrás, em um cruzamento de duas largas e barulhentas avenidas de são paulo, senti vontade de pisar no chão sem sapatos. mas em vez de tirar os sapatos e andar de pés descalços pelas calçadas imundas até a minha casa, segui andando com meus sapatos e minha vontade foi aumentando. eu estava me organizando para viajar para o interior naquele dia, mas a semana foi passando e eu me dei conta, um dia antes da viagem, de que eu estava sem condições de viajar. não, não era o trabalho. era eu. não jogar a culpa em cima de alguém ou de algo é bem bom. ou, se não é bom, pelo menos é útil, porque nos ensina a lidar com as coisas sem mentiras, sem mimimi. depois de decidir não viajar, sobrava um fim de semana inteiro sem planos. uma maravilha. avisei os meus filhos, que não andam de bicicleta há uns anos, que eu iria ao parque no sábado ou no domingo. quem quer ir comigo?, perguntei, esperando escutar grunhidos como ãããn, blé, humpf. mas não. em vez de grunhidos, m

a preciosa lição do meu hóspede

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"não fale, a menos que possa melhorar o silêncio." ... era um dia perfeito. nublado. fresco. com uma leve chuva. eu tinha saído para andar e só vi o chão molhado ao chegar à porta do prédio que dá pra rua. mas era uma chuva fininha, me garantiu o porteiro, quando ameacei voltar pra casa. o chuvisco me fez lembrar o meu hóspede alemão. uns dias antes, estávamos, o alemão e eu, caminhando pelas largas calçadas da avenida paulista. chovia um pouco. e ele disse, animado, "it's fresh". é maravilhoso quando aproveitamos o que está acontecendo. e eu estava aproveitando aquela manhã cinza, fresca e molhada para andar e achar bom. o que me fez lembrar do meu hóspede outra vez. ele havia chegado na minha casa na noite anterior. não nos conhecíamos. eu estava morrendo de sono. era perto das 23h quando a campainha tocou. oi, como vai?, quer comer?, aqui tem uma toalha pra você, ah, deixe suas mochilas aqui. ele disse que ia tentar dormir, mas para ele eram 3 da tarde - ele

queridas amigas, isso seria um texto de whatsapp.

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queridas amigas, isso seria uma mensagem de whatsapp. cheguei em casa nesta tarde cinza e gélida e em vez de sentir tédio - oh eu tenho de me organizar para amanhã, quando vou dar aulas, e tenho de fazer uma sopa para o jantar -, eu senti uma alegria amarela e quentinha, se a alegria tivesse uma cor e uma temperatura. vou mandar uma mensagem para elas, pensei. aí logo lembrei que teria de começar assim: "sentem. respirem. pronto, agora podem ler bem devagar". em alguns lugares o prato é tão lindo quanto a comida aí eu ia contar pra vocês como estava me sentindo. mas logo por whatsapp? onde a gente lê rápido e responde rápido e depois nem lembra o que disse nem se respondeu fulano sobre aquele assunto? fui dar uma olhada no meu blog e vi que fazia quase dois meses que eu não parava, sentava e escrevia. fazia seis quilos e uma semana de férias. isso quer dizer muito tempo, um tempo infinito e, por isso, imensurável. nunca tive uma regularidade de publicação de text

querida mãezinha

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tenho rezado muito. você sabe que eu nunca fui de rezar como tu. mas sempre rezei - ainda que não o teço, nem na missa, nem com a Bíblia no colo. ainda que sempre tenhamos rezado de formas diferentes, eu sempre rezei. mas ando rezando freneticamente nos último tempos. hoje fiz um pão de carne. o paulo havia feito no fim de semana e me mandou uma foto. e isso me deu uma vontade louca de fazer. fui procurar a receita e achei uma folha com a tua letra na minha pasta de receitas salgadas. "pão de carne da Minna." eu não sabia que o apelido da tua mãe era com dois N. achei que fosse Mina. hoje fui à igrejinha aqui perto de casa para pedir para rezar um missa pra ti. o tempo passa rápido. no próximo sábado vai fazer cinco anos que nos vimos pela última vez! hoje fui escolher algum colar que era teu no meu armário - e fiquei em dúvida entre o que tem uma florzinha dos alpes seca entre dois vidros dentro de uma moldura redonda de metal, o que tem vidrinhos coloridos e um que

três mulheres

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ela estava numa festa. uma festa da escola, em que famílias inteiras vão juntas e aproveitam a mesma festa. já era noite. eu a encontro com um grupo de amigos. e ela me conta, um pouco sem fôlego, que encontrou N, um garoto com quem ela tinha convivido bastante no ano anterior. mas em algum momento ele teve o celular roubado ou o aparelho havia quebrado, e ele não tinha mais dado notícias. mas apareceu na festa. ela o chamou, e antes de falar qualquer coisa, deu um tapa na cara dele. depois pediu desculpas. ela me conta que o tapa foi dado sem pensar. e que explicou isso a N, mas explicou também que ele pisou na bola ao desaparecer e nunca mais dar notícias. ele se desculpou. ela estava procurando uma fila nos caixas do supermercado. era um domingo, e todas as filas eram longas de dar aflição. quando ela passou por mim, ofereci um lugar na minha frente. ela aceitou, sorriu e agradeceu. embicou seu pequeno carrinho de compras na frente do meu, e me contou que tinha dor nas costas

carta para R

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querida amiga, ironicamente começo a escrever esta carta no dia dos namorados. brindamos ontem e hoje você disse que irá brindar novamente, com a sua amiga, com vinho e bombons. eu fiquei muito tocada ontem quando você disse que está muito cansada. eu sei o que você está sentindo, porque eu já me separei. vi ruir o castelinho de areia que teimamos em construir quando nos casamos, mesmo sabendo, desde muito pequenas, que a qualquer momento uma onda vem e desmancha nosso castelo construído sob o sol escaldante da praia. quando somos crianças, a construção leva uns minutos, talvez uma hora. mas quando nos tornamos adultas, leva vários anos. você sabe que para duas pessoas se separarem, é preciso muita coragem. e muita lucidez também. e ainda resiliência, para aguentar o espaço que se abre - que em alguns momentos parece uma plantação de lavanda, mas em outros parece um rombo escuro dentro do estômago da gente. e nessas horas, o estômago da gente dói como se fosse um órgão doente.

a febre alta, o cuidar e agradecer

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eu nunca tinha pensado nisso. mas foi inevitável. passei pouco mais de 24 horas fora de casa. o que, para uma mãe, é mais ou menos como passar uma semana num SPA. cheguei descansada e feliz. depois de uma caminhada no escuro, surge o sol às 6h e pouco na sala não havia ninguém, apesar de ainda ser cedo. achei um filho em cada quarto. um lendo. o outro debaixo das cobertas, com frio e com calor. mais cedo naquele domingo eu estava sentada ao lado do meu professor e dávamos gargalhada. ele tinha lembrado como eu tinha me machucado durante um retiro de silêncio na bahia. tínhamos ido à praia, e a atividade era andar, umas duas ou três horas, até chegar às piscinas naturais daquela praia. eu me joguei num morrinho de areia, e caí de mau jeito. assim que me dei conta de que não tinha morrido - ah ah ah -, comecei a sentir muita dor. fui me mexendo e com grande alívio me dei conta de que podia me levantar. mães são capazes de pensamentos um pouco histéricos do tipo "ainda bem q

os cheiros do amor e a Brené Brown

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tenho tentado fazer caminhos diferentes nas minhas caminhadas matinais com 5% de corrida. procuro entrar em ruas em que não costumo andar, acho que vou dar num lugar e dou noutro. e vez ou outra, a glória!, eu me perco, mesmo estando a poucas quadras da minha casa. e foi assim no domingo. eu vinha numa rua e dobrei numa esquina em que eu não tinha certeza onde iria dar. não me perdi, só tive aquela sensação boa de oh essa rua dá na praça e eu nem sabia! mas ao virar a esquina da ruazinha que eu não sabia ou não lembrava que dava na praça eu vi uma senhora que me fez lembrar muito a minha mãe. a estatura média, o corpo de uma pessoa que não é magra nem gorda, a roupa bem passada e combinando, o casaquinho de linha jogado sobre os ombros, o cabelo visivelmente penteado por um cabeleireiro e com uma boa dose de laquê. e o cheiro. o perfume maravilhoso que senhoras endinheiradas e de bom gosto usam! era o cheiro da minha mãe. imaginei que esta senhora estava saindo da missa dominical, c