pode parar

"diz-se que tudo que procuramos também está à nossa procura; que, se ficarmos bem quietos, o que procuramos nos encontrará."
eu já conhecia a frase, mas me deparei com ela novamente ontem, num livro que eu acabei de ler e recomecei, pra ir entendendo o que eu vou entender em uma vida inteira de leitura (a propósito, o livro é "mulheres que correm com os lobos", uma enxurrada de conhecimento acerca do feminino que toda mulher e todo homem deveriam ler algumas vezes para que cheguemos perto de algo que está muito, muito distante da maioria de nós).
e agora, deitada no sofá, de banho tomado, com um lenço de seda ao redor do pescoço para aquecer uma garganta dolorida e suando como se tivesse voltado de uma corrida de uma hora, a frase ficou fazendo pim pim pim na minha cabeça.
eu adoeci. e tenho a impressão de que esta é a doença de dezembro. o ano vai acabando, a minha exaustão vai subindo e, sabiamente, meu corpo dá uma desacelerada. fico doente pra me curar da minha loucura, pra parar, deitar no sofá às 10h19 de uma sexta-feira e ficar quieta. sem mexer no celular, sem ler um livro, sem responder e-mails, sem fazer nada. 
é muito difícil parar. e pra isso que servem as doenças. não, eu não li sobre o assunto, nem estudei sobre isso. não sou médica, e nenhum médico jamais me disse isso. mas esse é meu entendimento. 
dia desses, ao redor de uma grande mesa, eu almoçava com um grupo de pessoas do trabalho. mas com quem eu não tenho muito contato, porque eu trabalho na minha casa e eles, no escritório. de repente me dei conta de que estávamos aos gritos. o tema era vacina e doenças. de um lado, uns dizendo que vacinas são necessárias, todas elas, pra que ninguém fique doente. do outro, eu, que não vejo doença como um inimigo, mas como uma possibilidade (minha amiga que teve câncer e quase morreu mais de uma vez, sempre se refere aos períodos de cirurgia e pós cirurgia e tratamento como "um momento tão profundo da minha vida").
da minha lista de coisas a fazer hoje, antes de viajar para porto alegre, onde vou lançar meus livros daqui a três dias, devo fazer zero coisas hoje. que maravilha acabar com a agitação frenética antes de uma viagem assim, deitada no sofá.
é uma sensação muito boa fechar os olhos e não fazer nada. o corpo parece o de um boneco gigante de pano. e só o que se mexe, pela minha percepção, é a barriga. como se o boneco tivesse uma bexiga dentro dele, e essa bexiga enchesse e esvaziasse a cada respiração.  

mesmo sem nome por uma semana, ela cresceu linda e forte

lembro de quando, quase 15 anos atrás, minha filha nasceu. como não sabíamos se era um guri ou uma guria, tínhamos duas listas de nomes. só que depois do parto eu não achava que os nomes que estavam na lista tinham a ver com ela. no hospital era uma aflição, porque só tinha UM bebê sem nome, que ia do berçário pro quarto da mãe e dali pro berçário num bercinho em cujo cartão de identificação se lia o nome da mãe e o número do quarto! a cada troca de turno os enfermeiros me ligavam pra saber se o bebê já tinha nome.
chegamos em casa e a guria não tinha nome. um dia meu filho olha pra mim e diz "mãe, a filha tá chorando". era preciso dar um nome à minha filha, mas eu seguia sem saber qual nome. ao que meu mestre querido me disse: "você precisa ficar em silêncio, para poder escutar o nome dela". 
a lívia passou a se chamar lívia sete dias depois de sair da minha barriga. a aflição das pessoas nesses dias era generalizada. um pote com sal grosso foi colocado atrás da porta do apartamento porque, segundo a minha sogra, o bebê precisava de proteção já que não tinha um nome.
os aprendizados na vida costumam ser lentos. muito lentos. porque isso faz muitos anos e eu ainda preciso ser derrubada por uma gripe que faz doer horrores a minha garganta e que congela os meus pés pra parar. 

criando coragem pra me jogar

é muito bom terminar ciclos. por isso que é tão bom quando um ano acaba. é animador. e um bom momento pra encher o nosso saquinho de coragem e ir atrás do que queremos. tranquilamente, de preferência.

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