o voo das ideias

eu estava saindo do prédio, feliz da vida, e o vejo na calçada. aceno, e ele retribui. muito simpáticos, nós dois.
ele não tem filhos. o dia que fiz essa pergunta pra ele escutei um ahahah antes da resposta. é claro que ele não tinha filhos. o cara sai para andar todos os dias, tem sempre cara de feliz, viaja horrores, parece trabalhar o suficiente, e definitivamente não tem cara de quem cuida de alguém além dele próprio.
voltando à minha saída do prédio, ele estava de calção de corrida, boné e com a sua habitual cara de a-vida-é-bela. eu tinha minha bolsa pendurada num dos braços, mais uma sacola de pano vazia, e nas mãos levava as chaves do carro e da casa, meu celular, um papel com os itens a serem comprados no supermercado, um agasalho - eu podia ir ao cinema e odeio morrer de frio por causa de ar-condicionado. e bufava.
olhei o frescor do meu vizinho e morri de inveja. eram 10h, e ele devia ter saído da cama meia hora antes dos nossos acenos recíprocos. mas eu tinha acordado às 5h30, acho. meus filhos jamais sentem sono aos sábados e domingos - sono é coisa para se sentir de segunda à sexta, e isso deve ser uma informação genética que está presente em todas as crianças do mundo. tínhamos ido à padaria tomar o café da manhã, porque o pão que deveria ter sido feito em casa na sexta não existia. e café da manhã sem pão não é café da manhã, penso eu, que não como pão. depois de muito comer, voltamos para casa, mui contentes, os três. então eu arrumei a mochila das crianças, meu filho ligou para o pai para dizer que ele "já podia vir buscá-los" e nós nos sentamos no jardim do prédio para esperar o alessandro. depois eu andei até a adorável teodoro sampaio para fazer compras rápidas, como sabonetes e shampoos.
voltei pra casa, descarreguei a bolsa de pano, olhei minha lista de afazeres e então desci para a garagem. foi então que encontrei o simpático vizinho.
putaqueopariu.
muitas coisas aconteceram depois do aceno. fui cortar os cabelos, o dr. kong quase me quebrou com sua massagem absolutamente maravilhosa, tirei uma soneca para me recuperar da semana medieval, comi moqueca de camarão e troquei as fraldas da marianinha, para matar a saudade, comprei um macacão e um cafta numa liquidação e finalmente me sentei para tomar uma cerveja sossegada, num pé sujo cujo serviço é lamentável mas onde encontro meus amigos de coração.
quando voltei pra casa, sem carro, vim andando a passos de tartaruga - minha amiga ficou boquiaberta quando contei a ela. era uma noite perfumada, incrivelmente perfumada. e eu ia andando e olhando e sentindo aqueles perfumes de flores maravilhosos e pensando em como adoro morar em são paulo.
peguei agora o papel da lista das compras do supermercado de sábado. nesse papel eu tinho escrito sobre o perfume das flores e sobre o aceno feliz do carlos, o-homem-que-parece-não-ter-problemas.
ainda bem que eu escrevo. senão as ideias saem voando e eu nunca mais as encontro.

Comentários

  1. Ainda bem mesmo, asssim, do lado de cá, temos o privilégio de ler...adorei...fez lembrar a inveja que tenho dos solteiros no supermercado: enquanto eu quase não cobsigo empurrar o carrinho de tão cheio, eles passam leves com um cestinho de pão e coca-cola....
    Bjs,
    Dani

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  2. é muito bom ler a delicadeza do olhar da tita sobre o mundo... renova e inspira... saudades de conversar contigo, linda!!! beijos

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  3. Foi ótimo te ver sábado, mesmo que por pouco tempo!!! Bjs

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