vou fingir que sou uma samambaia

pronto, cheguei.
tivemos uma reunião de trabalho hoje, o pai dos meus filhos, a gabi, mulher dele, e eu. organizamos os fins de semana que não eram organizados havia uns 200 anos.
"mas podemos ajustar?", ela perguntou. sim, claro, sempre há imprevistos na vida de todos. graças a deus.
mas eu fiquei tentando fazer cara de samambaia, e não consegui. almoçar com ex-marido não é pra qualquer uma. puta merda. mas o melhor de tudo, além da minha falta de ar ao não conseguir fingir que eu era uma planta num vaso no canto de uma sala qualquer, foi sentar ao lado dos meninos do escritório no restaurante. helloooooooo, você vai TER DE SER UMA SAMAMBAIA AGORA, BABY.
e então apresentei "o pai dos meus filhos" aos meninos, e seguimos almoçando.
foi um alívio poder acertar questões latentes - leia: fins de semana com ou sem filhos? -, mas não sabia que eu passava mal desse jeito.
o quê? aflição assim? oh yeah. muitas aflições. dessa vez não mais adolescentes. ainda bem. umas aflições cheias de cabelos brancos e rugas finas. mas são aflições. desculpa, querida, mas você não é insensível, bem resolvida e tal.
e então eles foram viajar, e eu fiquei esperando o meu filho chegar à casa de uma amiga minha para mandar um táxi buscá-lo. isso porque aqui na cidade cinza meu carro não pode circular às quintas-feiras das 7h às 10h nem das 17h às 20h. mas eis que a zaida me liga e pergunta se o joão pode ir com ela e a filha numa festa surpresa e claro, depois disso ela poderia deixá-lo aqui. os planos de dormir cedo evaporaram e eu disse ó-para-mim-está-ótimo-e-obrigada-pela-gentileza-de-trazer-o-moleque-pra-casa. meu deus, ou eu compro uma lambreta ou arrumo um marido gentil logo.
eles, o pai e a madrasta dos meus filhos, não vão mais morar em são paulo. e hoje, sabe-se lá por que, acho que caiu a ficha. não, eles ainda não se mudaram. e não, a mudança deles não vai fazer muita diferença na minha vida. porque não, eles não ajudam muito. nunca ajudaram, e nunca vão ajudar. e assim é que é. mas hoje fiquei tonta em casa, pensando no táxi que eu ia mandar pra casa da zaida pra trazer o joão, e me senti tão horrivelmente só.
pelamordedeus, de onde foi que eu tirei que a maternidade era um projeto de duas pessoas? quando foi mesmo que alguém me disse isso e eu, por anos a fio, acreditei?
lágrimas molham as minhas bochechas, e eu sinto um alívio. como se eu soltasse uns sacos que eu andava carregando nos últimos 25 anos, e conseguisse andar sem carregar nada. só o meu corpo.
é uma sensação quase intra-uterina. e preciso colocar isso em palavras pra nunca me esquecer.

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