A mala do filho
As crianças estão acostumadas a viajar desde sempre. Moramos
longe dos avós deles, e também morei nos Estados Unidos logo que meu filho
nasceu. Depois o pai deles foi morar no Rio de Janeiro. Viajamos – ou eles
viajam – muito. Eles viajam mais do que eu. Então a mala faz parte da vida
deles.
Se uma criança não sabe fazer a mala a partir da idade em que
já sabe escolher uma roupa – isso seria aos 3 anos? Ou aos 5? 7? Não lembro -,
ela vai ter uma certa dificuldade em cuidar da própria bagagem. E talvez se torne uma pessoa que não dá conta de separar umas mudas de roupa pra passar uns dias fora de casa. Mas a maior
dificuldade, é claro, é a gente deixá-la arrumar as suas coisas. Ah que
trabalho que dá aguentar um filho fazer a sua mala e não ir lá mexer em tudo o
que ele arrumou.
E assim foi. O João ia viajar hoje com a classe dele. Então pedi
que ele separasse as roupas ontem à tarde, e eu ia dar uma olhada – coisa que
eu não faço há anos, mas achei que era necessário. Ah ah ah.
Mas ele não separou roupa nenhuma, nem a bolsa, nem a
mochila, nem nada. Foi dormir. E eu fiquei bravíssima. E combinei comigo mesma
que hoje cedo eu não iria ajudá-lo. E que se ele não ficasse pronto ele
perderia a viagem. Incrível como uma mãe tem uma capacidade infinita de ser
melodramática e besta.
Fui chamá-lo hoje bem cedo, “você tem de arrumar a sua mala”.
O cara pulou da cama, e arrumou tudo. Uma nécessaire com repelente e protetor
solar, as duas toalhas de banho que constavam da lista de itens para a mala. Tudo.
Lanche, garrafa com água, chinelos.
Na hora de sairmos para a garagem, leio a lista pra ele. Tava
tudo lá. Menos os agasalhos, que ele pegou.
Sem drama, sem dor. Mas eu quase morri.
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