ao meu lado

é engraçado perceber que meu filho cresceu em uma semana. mas é verdade: ele cresceu.
quando você deixa de ver um filho todos os dias, você percebe algumas mudanças impressionantes. a primeira que eu percebi foi o pé dele. sim, o pé. ele tinha um pé de moleque, mais fino mais estreito mais curto. e dia desses ele tira as meias - segunda coisa que ele faz quando entra na minha casa, quase todo sábado. a primeira é tirar os tênis - e eu olho praquele pé e fico impressionada: mais longo, mais largo, pés de um homem.



piegas. podre de piegas. mas fazer o quê? e então anotei, num papelzinho qualquer, "os pés dele". eu não queria me esquecer de escrever sobre isso.
semana passada foi a vez da altura. olhei pro joão, que estava de pé ao meu lado, e não pude acreditar que ele estava mais alto que a última vez que eu o tinha visto, exatamente sete dias antes. fomos nos medir, e sim, ele me passou. 
ele pediu pra ir morar com o pai dele. e eu também. era uma vontade antiga, a dele, mas sempre vinha em forma de ameaça. já que eu era #?@, ele iria morar com o pai. mas nunca ia de fato.
ano passado foi diferente. aos 13 anos, mesma idade em que meu pai saiu de casa contra a vontade dele para estudar num seminário, de onde sairia padre se não tivesse desistido de tudo aos 18 e partido pra porto alegre, onde conheceu a gerdinha e se casou e tal, o joão pediu pra ir morar com o pai dele. que morava no rio de janeiro. 
tudo demorou muito. mas finalmente em fevereiro, quando o pai dele já estava morando em campinas e tinha arranjado uma escola para o joão estudar, ele foi. 
desnecessário entrar em detalhes, mas não é nada doce ver um filho saindo de casa aos 13 anos. eu, que sempre defendo a independência das nossas crianças, que ensino meu filho e minha filha a andar de ônibus em são paulo, que acho que filho é do mundo, que deixo fazer acampamento internacional por 30 dias, que autorizo viagens de avião para visitar os avós nos pampas há muitos anos, achei duro. pra ser elegante. porque é (muito) pior que isso.
mas nada como um dia depois do outro. o guri tá lá, costuma me acordar algumas vezes por semana com mensagens no celular nem sempre felizes. adora reclamar de muitas coisas. mas segue lá. morando com o pai, a madrasta e a irmã. 
e mesmo com a vida acontecendo, e cada um cuidando do que tem de cuidar, a coisa que eu mais gosto na minha vida é quando encontro meus dois filhos. é indescritível. é como se um fogareiro pequeno fosse aceso perto do meu coração. e o seu calor irradiasse por todo o meu corpo. 
a verdade é que a distância é uma merda. quando a gente ama, a gente quer proximidade, não distância. e isso fica muito claro todos os dias, quando eu sei que posso tocar a minha vida longe do meu filho. e ficou mais claro ainda quando cheguei ao hospital no qual o joão tinha passado por uma pequena cirurgia - mas de emergência, com anestesia geral e entubado, oooooooooh -, e fui autorizada a entrar na sala de recuperação, onde muitos pacientes repousavam pós cirurgia. ainda que a cena fosse sórdida, e eu estivesse exausta, eu me senti no céu. vendo a bolsinha de sangue ao lado de uma mulher, e a velhinha que respirava ruidosamente e depois explicou pra enfermeira "vocês mandaram eu respirar fundo, e eu estou respirando", eu me sentia feliz. a outra reclamava de dor, e o outro queria algo que eu não entendi. posso fotografar?, perguntei pra enfermeira. ela foi perguntar pra enfermeira-chefe (no hospital, a autonomia parece ser perto de 0%). sim, podia, desde que não fotografasse os aparelhos. não entendi, mas achei melhor não fotografar. afinal eu e meu filho éramos os únicos felizes naquela sala sinistra.
o que importa é estar ao lado de quem a gente ama. o resto é o resto. e haja coragem pra ficar longe. seja por um tempo, seja pra sempre.

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