o ar - ou sobre a falta dele

existem as coisas chatas, e as coisas muito chatas. e a falta de ar eu incluo na última categoria. onde entram também pessoas chatas, azia, falta de paciência e mau humor. as piores coisas da vida.
o fato é que ela veio me visitar. suavemente, duas semanas atrás, e mui intensamente nas últimas 24 horas. meu mestre sempre diz que é preciso estar atento. porque, afinal, nada é em vão. eu ando me perguntando o porquê de muitas e muitas coisas, e a resposta não vem. vem só a falta de ar, que acha que é minha amiga mas na verdade não é.
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o dia amanheceu horrivelemente ensolarado, e fomos pra linda festa da primavera. era a última festa da família, já que a lívia vai pro primeiro ano no ano que vem, e esta festa só acontece no jardim. a festa, como sempre, foi belíssima - a primeira foi oito anos atrás, quando o joão entrou no jardim de infância. mas ao mesmo tempo em que eu sentia muita paz escutando o som da flauta transversal e vendo a doçura da minha filha cantando e dançando com suavidade e alegria, sentia tristeza.
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minha amiga tirou o filho dela da escola onde ele estava. uma mãe surtou, e deixou o filho dela, da minha amiga, acuado. ela, minha amiga, achou melhor colocar o menino noutra escola. as pessoas andam horrivelmente intolerantes. olhamos em direção ao nosso umbigo e não conseguimos enxergar além disso.
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hoje eu a encontrei, e nos abraçamos e choramos. eu me dei conta de que vivemos colocando todas as pessoas em caixinhas. a caixinha da esquerda e a da direita. tem a dos carnívoros e a dos vegetarianos. a dos que trabalham e a dos que vivem de renda. e assim vamos encaixotando tudo, numa tentativa besta de "entender" tudo. no fim não entendemos nada e passamos a viver na mais absoluta intolerância.
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vim pra casa com três crianças. minha amiga avisou: "ela só dorme depois das 10pm". já era tarde quando chegamos, e disse pra todos colocarem o pijama e escovar os dentes. os três dormiram em 10 segundos depois de deitar na cama. ia mandar uma mensagem pra mãe da rafa, mas não mandei. se eles, os três, dormirem amanhã até as 7am, vou achar uma glória.
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agora um bando de barulhentos canta algo que não entendo. moro numa região super legal e horrivelemente barulhenta desta cidade cinza que eu adoro. sinto os ventos da mudança. é sempre assim. nunca sei o que é, só sei que algo vai acontecer. e dessa vez será pra melhor.
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como diz minha doce amiga chacha, não precisamos de coisas. precisamos do que faz sentido.

Comentários

  1. Obrigada! Pois eu estou com várias dessas coisas mais chatas do mundo, no momento. Tive um mal-estar a noite toda (azia!) e não consegui dormir, a não ser um pouco já de manhã. Acordei como se tivesse levado uma surra, só quero estar deitada, apesar do lindo sol lá fora. Meu filho (o que alguns querem ver como monstro) trouxe algumas das moedas do seu cofre pra mim logo cedo, quando veio me acordar e soube que eu não estava bem. "Pra você comprar remédio, mamãe".Também ofereceu sua luzinha de dormir pra mim. Tita, a dor que sentes agora vai passar, porque tu sabes quem é teu filho de verdade. As dificuldades é que estarão por aí todos os dias e desejo pra nós duas que saibamos encontrar sempre a melhor maneira de lidar com elas.

    Bjs,
    Dani

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