mulher maravilha. ou o quê?



Resolvi começar pelos dois panos de prato brancos, mas encardidos, que jaziam dentro da bacia com água e sabão em pó fazia três dias. Fui esfregando e percebi, com alegria, que é um saco lavar pano de prato, mas que eles FICAM limpos depois de umas esfregadas. À mão, porque a escovinha não tem tanto poder. Ah ah ah.
Eu estava enrolando para a faxina fazia dois dias. Tentava ligar pra ana todo dia, mas o telefone só tocava. Até que alguém atendeu, e disse que ali não morava ana nenhuma. Pronto. Era preciso fazer a faxina.
Em sete anos que moro no meu pequeno e ensolarado apartamento, não lembro de ter feito o que fiz. Varri, arrastei móveis, passei pano úmido. Depois foi a vez de limpar os banheiros, e por último uma vassoura na cozinha e na área. Eu estava suada da cabeça aos pés. E bufando. E tudo durou mais ou menos uma hora.
Lembrei do ano que passei nos estados unidos. Eu também devia bufar quando limpava o apartamento em Boston. Mas fazia com amor. Meu filho estava aprendendo a engatinhar, e ia atrás de uma luzinha que ficava na frente do aspirador. Fazia um barulho horroroso, e o pequeno joão adorava. Às vezes deixava a faxina do banheiro pelo metade, quando o joão acordava da soneca da manhã ou da tarde no meio da minha função. Como nos estados unidos não há baldes, panos de chão ou tanques, os produtos de limpeza exigem uso de luvas e portas abertas por causa do cheiro. Tipo um mata rato, mas pra limpar a casa.
Lendo a Folha de S. Paulo dia desses, fiquei impressionada com uma frase no meio de um texto que depois eu não encontrei mais: as casas nos países pobres, acho que o texto falava do brasil e da áfrica do sul, costumam ser muito limpas, diferentemente das casas europeias. Graças à exploração do trabalho de alguém que faz o que a gente não dá conta de fazer. Eu sempre soube disso, porque eu mesma limpava minha casa norte-americana, e lembro da minha landlady, a jane, limpando a casa dela em Oxford, onde eu alugava um quarto. Lembro também das cartas que meu irmão me mandava durante o ano em que morou na casa de uma família na Alemanha, onde ele era au-pair. Nome em francês para empregados domésticos de países pobres que vão passar um ano no primeiro mundo cuidando de crianças e limpando a casa onde elas moram. O Paulo relatava a minuciosa limpeza dos azulejos – ele vai ler isso e vai dizer que não estou descrevendo o fato corretamente. Mas é disso que me lembro.
A minha vida de lavar passar cozinhar trabalhar E cuidar das crianças está completando hoje nove dias. Acho que vou fazer um bolo, colocar velas, e cantar parabéns.
Nesses dias fiquei pensando em todas as admiráveis mulheres que eu conheço que não têm empregada. Tem a zaida, a regina, a leila. Fiquei boquiaberta quando meus filhos lavaram t-o-d-a a louça depois do almoço de sábado – uma panela de pressão, uma panela de aço e uma frigideira incluídas. Eles também arrumaram a sala algumas vezes. Colocaram tudo o que usaram na pia, e levaram o lixo trocentas vezes para o contêiner na garagem. O joão esquentou o próprio jantar, a lívia abriu a geladeira e escolheu o que ia comer. Não que eles nunca tivessem feito essas coisas. Mas não faziam isso todos os dias.
Eu andava pensando muito nessas questões domésticas desde que as mudanças na lei começaram a ser manchete dos jornais. Estou exausta, e lembrando de uma reportagem maravilhosa, acho que do new york times, em que patroas diziam que suas babás e empregadas valiam ouro, mas que elas não tinham como pagar um bom salário para elas. Quando vou me acostumar a viver sem ajuda, achando ok cozinhar um singelo almoço pras crianças com arroz integral, lentilhas, um pouco de frango assado com alecrim e cenouras inteiras como salada?
...
noutro texto fabuloso, Supermulheres S.A., comentários pertinentes sobre o tema como-fazer-tudo-e-ser-feliz. ou melhor, como não fazer tudo e ser feliz. "Não dá para fazer tudo. Ninguém consegue ter dois empregos, filhos perfeitos, preparar três refeições por dia e ter orgasmos múltiplos [...] a supermulher é a inimiga do movimento feminista", definiu a ativista Gloria Steinem em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, no ano passado.
a outra frase fabulosa, extraída do mesmo texto, é de Anne Marie Slaughter, ex-diretora da Woodrow Wilson School of Public and International Affairs e ex-diretora de planejamento de políticas do departamento de Estado dos EUA. "Para ela, mulheres que conseguem ser mães e superprofissionais ao mesmo tempo são sobre-humanas, milionárias ou autonômas que podem organizar seus horários. Sem a possibilidade de trabalhar em casa, ter horários flexíveis, acesso facilitado a berçários ou babás, as mulheres não vão conseguir "ter tudo"."
tá bom o quer mais?



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