à espera dos sonhos

'eu tive muitos sonhos. mas tipo, dormindo eu fiquei esperando.'
ela tinha acabado de acordar, e chegado à cozinha, onde eu preparava o café da manhã meio zonza de tanto que eu tinha sonhado.
às vezes ela acorda e vai até a minha cama. mas às vezes eu acordo mais cedo, e então nos encontramos na cozinha. ela adora perguntar o que eu sonhei. e quando ela me pega deitada na cama escrevendo meu sonho no caderno, ela pede para eu contar. eu peço pra ela ela esperar um pouco, senão eu esqueço o que tenho de escrever. ela espera pacientemente. e toda vez que eu tento me livrar de contar o sonho e fecho o caderno, me dou mal. ela percebe.
eu não conto tudo. leio uma parte, edito. e ela sempre diz "nossa, só isso?". é claro que ela sabe que não é só isso.
às vezes eu escrevo os sonhos que ela conta no caderno dela. é um caderno que eu comprei quando ela ainda estava na minha barriga - na verdade, cada filho tem o seu. mas quem os guarda e quem escreve neles sou eu.
as melhores frases, se a gente não escreve, acaba esquecendo. por isso quis escrever essa que ela me disse e que começa este texto.
meus sonhos são tantos e tão claros que me atormentam. ainda bem que eu tenho pra quem contar. que não é a minha filha. ah ah ah. mas meu analista.
coraggio, diria o outro.

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