Coisas abomináveis

(o texto abaixo, título inclusive, foi escrito depois que eu li uma crônica homônima do Paulo Mendes Campos no livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, ed. Objetiva. Se você nunca leu o texto em questão, sugiro que o leia. É absolutamente maravilhoso. A seguir, a minha própria lista de coisas abomináveis)


Gente que se acha importante; gente formal; óculos sujos; cheiro de naftalina; cabelo alisado; umbigo de plástica; rua escura; calçada esburacada; calçada cheia de gente; café doce; gosto de adoçante dietético; meia apertada; meia-calça pequena; sapato desconfortável; roupa apertada; tecido sintético; roupa quente em dia de versão;  lábio ressecado; esquecer as chaves; armário bagunçado; luz fria; lápis preto com grafite que não escreve direito; perder a caneta; shopping em qualquer lugar; ouriço do mar dominando a areia onde você está andando; queimadura de mãe d’água; conta atrasada; gente que não larga o celular; dor nas costas; crianças mandando nos pais; motorista que não sabe dirigir; motorista que pensa que sabe dirigir, mas não sabe; lençol mal lavado; chuveiro elétrico; restaurante de beira de estrada sujo; pia cheia de louça; geladeira lotada; vinho doce; sagu com bolinha branca; o fedor do rio Pinheiros; carro da polícia estacionado sobre a calçada e com o motor ligado; cocô de cachorro no parque; cocô de cachorro na praça; tirar foto na recepção dos prédios; ônibus lotado; viajar de avião na classe econômica por mais de duas horas; perfume no elevador; não enxergar o que você quer ler; mosquito no meio da noite, fazendo zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz; unha roída; porta que não fecha direito; gente que não olha no olho; sala de espera de dentista; reuniões de trabalho com mais de quatro pessoas; revista com páginas faltando; mau humor; gente que pergunta como você vai, mas não escuta a resposta; manicure que fala sem parar; ter vontade de fumar quando está com raiva, apesar de ser ex-fumante há mais de 10kg; gente que tem medo de tudo; gente que reclama de tudo; falar pra criança que a bruxa vai vir pegá-la; sobremesa industrializada; comida congelada; comida industrializada e congelada; viajar e esquecer de levar maiô; viajar e esquecer de levar o chapéu; viajar e esquecer de levar os óculos de sol; perder-se numa estrada erma sem ter para quem pedir informações; cheiro que vem de qualquer lanchonete Mc Donald’s; ligar para o banco; porta giratória em agências bancárias; morar ao lado de uma obra do metrô; ter de falar com qualquer departamento de atendimento do consumidor, os chamados SAC, cujo nome deve ser uma homenagem à sacanagem de existir departamentos que, ao contrário do que dizem, são um DESserviço para o consumidor; as áreas de relações com a comunidade das empresas, que não sei pra quê foram criadas se só atrapalham e mostram pra comunidade que ela não vale nada; fazer uma lista de coisas abomináveis. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

obrigada, SPTrans, por nos tratar como lixo

sobre a ânsia de nunca (querer) parar

a minha longa história com o dr. kong