tita cornichon no dia das mães

fiz tudo o que tinha de ser feito. e então olhei para o relógio e senti um alívio. não eram nem 8pm. as duas melhores horas do dia são o começo e o fim. parece idiota, mas acho que é porque quando consigo andar em velocidade lenta.
entonces, feliz da vida que "ainda era cedo para dormir", peguei esta maquininha na qual escrevo agora e me sentei no sofazinho da cozinha, onde a iluminação é precária porque uma das lâmpadas queimou e sim, eu estou com preguiça de subir na escada de abrir e trocá-la. por ora as lâmpadas estão embrulhadas no fundo do meu armário - aquelas lâmpadas longas, caras e cuja luz, gélida, é a antítese do aconchego.
mas os cabelos brancos, que saltam alegremente entre os meus cabelos loiros, não são em vão. chega uma hora na vida da gente em que é possível escolher com tranquilidade e sem culpa o que vamos fazer e, mais importante, o que NÃO vamos fazer.
e assim eu escolhi almoçar num lugar lindo, verde, para comemorar o supra-sumo do pleonasmo, o dia das mães. meus filhos não aguentaram e me deram um vaso de cerâmica pintado - pelo joão - e com uma muda de bem-me-quer e um porta-guardanapos pintado - pela lívia - na sexta. e achei muito besta dizer pras crianças que elas podiam escolher um presente para a mãe delas - sim, mulheres que têm filhos mas não têm maridos não ganham presentes "comprados" no dia das mães. ganham presentes "feitos". o que não deixa de ser uma vantagem, se eu pensar que nos anúncios publicados freneticamente nas duas semanas anteriores à estranha data havia muitos liquidificadores, muitas máquinas de café espresso, muitos equipamentos eletrônicos, muitos perfumes e sim, muitas roupas de perua.
o domingo estava ensolarado, e eu passei o dia dizendo "hoje a mamãe que escolhe". escolhi café na padaria, escolhi a padaria e escolhi irmos a pé. escolhi o lugar do almoço - sem fila e com muito sabor -, e não lembro se escolhi a história que contei na hora de dormir. mas já nem me importava. o dia tinha sido tão bom, tão alegre, tão ensolarado, que qualquer história que eu contasse pras crianças seria uma linda história. eu estava feliz e cheao de orgulho.
lembrei do livro "make way for ducklins". a história é tão conhecida em boston, nos eua, que num dos parques da cidade, o public garden, tem a família de patos em esculturas no chão. o livro, de meados do século passado, conta a história, com desenhos fabulosos, do sr. e da sra. mallard, patos que sobrevoam boston atrás de lugar para fazer um ninho para ter seus patinhos. e numa determinada parte da história, a sra. mallard vai andando toda orgulhosa pelas calçadas da cidade até chegar ao public garden, e todas as pessoas ficam olhando a mãe pata andando, sendo seguida por seus oito patinhos. e eu me senti uma pata feliz e orgulhosa no domingo. juro que foi a primeira vez que me senti uma pata.
e para fechar com chave de ouro, no dia seguinte recebo uma mensagem linda. e um presente maravilhoso. uma garrafa de vidro com tampa de porcelana, para tomar muita água nos dias em que passo sentada no escritório trabalhando freneticamente.
a mensagem é essa:
"Quero que saiba que você é a mãe mais consciente e dedicada que conheço. Se eu fosse mãe, me inspiraria em você".
é maravilhoso ter fontes de inspiração na vida. mas também é maravilhoso pensar - e saber - que inspiramos outras pessoas.

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